Segundo Fernando Haddad, “podemos precisar do petróleo da Margem Equatorial, com as cautelas que o meio ambiente deve impor à Petrobras”. Como se fosse possível.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vinha se mantendo neutro no debate sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, ao menos publicamente. No entanto, às vésperas de concluir o road show dos títulos verdes soberanos do Brasil no exterior, resolveu dar voz aos combustíveis fósseis, reforçando a ala do governo que defende o desenvolvimento do século passado, formada por Minas e Energia, Casa Civil e Petrobras.
Em entrevista ao programa Canal Livre, da Band TV, repercutida por Reuters, Época Negócios, Terra, Brasil 247, Poder 360 e R7, Haddad disse prever uma exploração “cautelosa” de petróleo na Margem Equatorial, faixa litorânea do Amapá ao Rio Grande do Norte onde está localizada a bacia da Foz do Amazonas. Como se fosse possível unir “cautela ambiental” e “petróleo”. Que o diga o derrame de milhares de barris na costa do Nordeste em 2019, com consequências ambientais que permanecem até hoje.
“Acredito, por tudo que tenho ouvido dentro do governo, que vai preponderar uma visão cautelosa de que tem [que explorar] mesmo”, afirmou o ministro. Vale lembrar que a Fazenda coordena o Plano de Transformação Ecológica do governo e o está apresentando em Nova York nesta semana.
Haddad tentou aliviar, ressaltando a importância ecológica da região onde a Petrobras quer explorar petróleo, na costa do Amapá. Mas disse que a Guiana está produzindo petróleo em área geologicamente similar – argumento exaustivamente usado pelos desenvolvimentistas do século passado para justificar a exploração de combustíveis fósseis na foz, mesmo diante de sua altíssima sensibilidade ambiental.
“É um santuário de biodiversidade. Tem que cuidar. A foz do Amazonas ali… Quem conhece aquilo sabe que é de uma riqueza espetacular. Agora, quilômetros ali do lado, a Guiana está explorando na plataforma na Margem Equatorial. Vamos tomar cuidado, com toda cautela.”
Na 2ª feira (18/9), em Nova York, o governo concluiu a primeira apresentação a investidores da emissão de green bonds do Brasil – é a estreia do país nesse tipo de captação. Foram realizadas 36 reuniões, com cerca de 60 investidores internacionais, incluindo nomes dos Estados Unidos e da Europa. A expectativa é captar cerca de US$ 2 bilhões. A emissão dos títulos deve ocorrer até meados de novembro.
Os bancos que vão assessorar o governo brasileiro também já foram contratados. Segundo a Fazenda, são o norte-americano JPMorgan, o Santander e o Itaú Unibanco, informa o InfoMoney.
Poder 360, Valor, Agência Brasil, Eco21, O Globo e Correio Braziliense repercutiram o road show dos green bonds brasileiros em Nova York.
ClimaInfo, 19 de setembro de 2023.
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