Ondas de calor mataram quase 50 mil brasileiros entre 2000 e 2018

28 de janeiro de 2024
ondas de calor Brasil
Tomás Silva/Agência Brasil

Número de mortes por temperatura extrema foi mais de 20 vezes maior que óbitos provocados por deslizamentos, afetando mais idosos, mulheres, negros e menos escolarizados.

As ondas de calor que “torraram” o Brasil em 2023 não são uma novidade. Na verdade, esses eventos extremos vêm se tornando cada vez mais frequentes e intensos ano a ano, por causa do agravamento das mudanças climáticas. Além disso, escancaram ainda mais as desigualdades sociais e econômicas brasileiras, afetando e matando muito mais as populações já vulnerabilizadas.

Mais de 48 mil brasileiros morreram entre 2000 e 2018 por causa de ondas de calor, mostra um recente estudo publicado no Plos One. O número, destaca o Observatório do Clima, é mais de 20 vezes maior do que as letalidades provocadas por deslizamentos no mesmo período. Além disso, o calor extremo afetou muito mais mulheres, pretos e menos escolarizados.

Ainda de acordo com a pesquisa, o Brasil enfrentou de 3 a 11 ondas de calor por ano na década de 2012. É quase quatro vezes mais do que eventos do tipo registrados nos anos 1970, quando de zero a no máximo três desses eventos climáticos extremos foram registrados, relata o g1.

O aumento mais significativo de ondas de calor foi identificado nas regiões Norte e Nordeste. Em Salvador, na Bahia, nas décadas de 1970 e 1980 a média era de 0,5 registro ao ano. Já nas décadas de 2000 e 2010, saltou para 3,5 ao ano. Belém, no Pará, não registrou ondas de calor nos anos 1970 e 1980. Mas, nas décadas de 2000 e 2010, atingiu média anual de 11 ocorrências.

Além disso, as ondas de calor se tornaram mais longas. Nos anos 2000 e 2010, elas passaram a durar de 4 a 6 dias. Já nas décadas de 1970 e 1980, a duração desses eventos extremos era de, em média, 3 a 5 dias.

“Pessoas que vivem num contexto urbano, sobretudo nas periferias e com condições precárias de moradia, sem acesso a recursos de adaptação e sem acesso a políticas públicas de acesso à saúde são as mais vulneráveis. Os números mostram uma ligação entre mudanças climáticas e as desigualdades socioeconômicas, inclusive indicando que o aumento da ocorrência de desastres naturais no nosso país tem exacerbado as desigualdades sociais que já existem”, disse à TV Cultura Djacinto Monteiro dos Santos, pesquisador da UFRJ e um dos autores do estudo.

A pesquisa analisou as 14 regiões metropolitanas mais populosas do Brasil, de acordo com o IBGE, nas cinco regiões do país: Manaus e Belém (região Norte); Fortaleza, Salvador e Recife (Nordeste); São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (Sudeste); Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre (Sul); e Goiânia, Cuiabá e Brasília (Centro-Oeste). Juntas, elas abrigam 35% da população brasileira.

A ocorrência dos eventos foi mapeada com a aplicação do Fator de Excesso de Calor (EHF, na sigla em inglês). O índice permite identificar e classificar as ondas de calor de acordo com sua frequência, duração e intensidade, além de estipular os níveis de calor que podem representar riscos à saúde humana.

A partir daí, os pesquisadores utilizaram a base de dados do DATASUS do período de 2000 a 2018 para calcular a “mortalidade em excesso”, com a comparação entre os óbitos ocorridos durante cada onda de calor mapeada e as mortes observadas na mesma época no ano e durante a mesma quantidade de dias em condições normais. Doenças circulatórias, respiratórias e o agravamento de condições crônicas prévias diante do calor extremo foram as causas mais frequentes dos óbitos.

BBC, Um só planeta e Correio do Povo também repercutiram o estudo.

Em tempo 1: Em 2023, ano em que o planeta bateu recorde de temperatura, desastres relacionados às chuvas no Brasil deixaram pelo menos 196 mortos, desalojaram mais de meio milhão de pessoas e provocaram prejuízos públicos e privados da ordem de R$ 25 bilhões – o maior valor desde 2013, destaca Giovana Girardi na Agência Pública. Os dados são de um levantamento compilado pelo pesquisador Rafael Luiz, do CEMADEN, com base nos dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), da Secretaria Nacional de Defesa Civil. Vale frisar que a análise foi feita apenas sobre os eventos de chuva reconhecidos pelo governo federal a partir dos pedidos feitos por municípios de decreto de situação de emergência ou estado de calamidade pública. Entram nesse recorte apenas movimentos de massa (como deslizamentos de terra); erosão de margem fluvial; inundações; enxurradas; alagamentos e chuvas intensas.

Em tempo 2: A crise climática continua bagunçando a América do Sul. Nos últimos dias de janeiro, onde deveria estar fazendo calor está fazendo frio, e onde deveria estar mais frio o calor é extremo, destaca o MetSul. A temperatura está muito abaixo da média no Sul e em parte do Sudeste do Brasil, enquanto na Patagônia o calor bate recordes históricos. O sul da Argentina enfrentou vários dias seguidos de calor extremo na última semana, com os termômetros em diversas cidades patagônicas acima de 40ºC e recordes históricos de temperatura máxima em diversas estações meteorológicas da região mais meridional do continente.

 

ClimaInfo, 29 de janeiro de 2024.

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