Política antiambiental e tensões internacionais esvaziam fundos de investimento ESG

fundos de investimento ESG
Morningstar / By The New York Times

Com baixo desempenho em 2023, fundos sustentáveis sofrem revés na Europa e nos Estados Unidos; nesse país, ofensiva parte de visão negacionista do Partido Republicano.

O momento é de muita cautela no mercado financeiro ESG. Depois da bonança e do otimismo dos primeiros anos desta década, 2023 foi marcado por retrocessos políticos e prejuízos econômicos que ameaçam o futuro do setor. De acordo com a Bloomberg, a partir de dados da consultoria Morningstar, os clientes de fundos ESG sacaram US$ 5,1 bilhões líquidos nos últimos três meses do ano passado, um êxodo recorde para o setor. No ano todo, as perdas foram de US$ 13 bilhões.

O contexto político é um fator crucial para essa baixa significativa do mercado ESG, especialmente nos Estados Unidos. O Partido Republicano, que se mantém como bastião do negacionismo da crise climática na política norte-americana, transformou a sigla ESG em um dos alvos de sua ofensiva contra o que eles chamam de woke politics – ou seja, o ativismo de empresas e investidores em favor de causas socioambientais.

O argumento dos republicanos é que os critérios ESG restringem investimentos a empresas de setores com grande impacto ambiental e climático, ignorando o que eles consideram como principal objetivo do investidor – o retorno financeiro. Em muitos estados norte-americanos, principalmente aqueles governados pelo partido negacionista, os governos retiraram suas aplicações de gestores que adotassem critérios ESG e iniciaram uma guerra jurídica para derrubar esse tipo de investimento.

O resultado dessa ofensiva foi sentido com bastante força em 2023. Além das retiradas recordes, as empresas que administram fundos ESG também deixaram de divulgar essas oportunidades de investimento por medo de represálias políticas.

Mas o movimento não se restringe aos Estados Unidos. Em todo o mundo, o cenário foi de recuo dos investimentos sustentáveis. Os dados da Morningstar mostram que os fundos voltados para o clima captaram US$ 37,8 bilhões em novos recursos no ano passado, muito abaixo dos US$ 151 bilhões captados em 2021, no auge da “febre ESG”.

No plano global, a ofensiva anti-ESG por grupos direitistas desempenha um papel menor. O principal obstáculo está na piora das condições e das perspectivas macroeconômicas em nível mundial, causadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia e as tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China.

Financial Times e NY Times também abordaram os resultados negativos do mercado ESG em 2023.

 

ClimaInfo, 16  de fevereiro de 2024.

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