
Apenas 31% das Áreas de Preservação Permanente no entorno do rio estão cobertas com vegetação nativa, proteção que poderia ter reduzido o impacto da catástrofe.
O vale do rio Taquari foi uma das localidades mais devastadas pela catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio. O curso d’água passa por 15 cidades, e seu transbordamento inundou todas elas. Segundo a Defesa Civil do estado, 34 pessoas morreram na região e 20 continuavam desaparecidas.
A tragédia do mês passado foi a 3ª a atingir o vale em 8 meses. Fortes chuvas já tinham causado mortes e perdas materiais em setembro e, novamente, em novembro do ano passado. “Não temos mais lágrimas para chorar”, desabafou Geniza Ferreira dos Santos, de 33 anos, moradora de Muçum, um dos municípios da região.
Contudo, a destruição de maio poderia ter sido menor, destaca a Agência Pública. O entorno do rio Taquari carece de um tipo de proteção que poderia ter ajudado a reduzir o impacto da tragédia, já que apenas 31% das Áreas de Preservação Permanente (APPs) – margens dos rios, que são protegidas por lei – estão, de fato, cobertas com vegetação nativa. É o que mostra o Movimento Pró-Matas Ciliares do Vale do Taquari a partir de dados do MapBiomas.
A análise abrange todos os 140 km do rio Taquari, desde sua formação, com a união dos rios Carreiro e Antas, até o deságue no Jacuí. Conduzido por Cleberton Bianchini, engenheiro ambiental egresso da Universidade do Vale do Taquari (UNIVATES), o estudo verificou que 6.142 hectares às margens do rio deveriam ser delimitados e protegidos como APPs, segundo a legislação federal. Mas apenas 1.943 hectares estão cobertos com formação florestal.
Outros 52% (3.232 hectares) são ocupados com um mosaico de agricultura e pastagem. O restante [17%] se divide entre infraestruturas urbanas, formações campestres e outras áreas não vegetadas. Sem vegetação, que promoveria a infiltração da água no solo, a mancha de inundação se espalha mais facilmente.
A importância das APPs ficou evidente num dos afluentes do Taquari, o rio Forqueta – onde uma ponte que ligava as cidades de Travesseiro e Marques de Souza cedeu com a cheia. O curso d’água tem um trecho com margens em condições opostas: de um lado, uma porção significativa de vegetação nativa e, no outro, campos desmatados e casas. Resultado: a margem que seguia a determinação de APP se manteve intacta. A outra foi arrasada e deixou o solo totalmente exposto.
“O Código Florestal foi rasgado pelo Rio Grande do Sul. O Brasil é uma tragédia anunciada com conhecimento de causa. Mata ciliar o pessoal não quer nem ouvir falar”, desabafou Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciência, a Juremir Machado da Silva, na Matinal.
Em tempo 1: Indígenas do RS que vivem em territórios ainda não demarcados estão retornando para áreas mesmo alagadas com medo de serem expulsos de suas terras, mostra a Agência Pública. É o caso das comunidades Guarani Araçaty, em Capivari do Sul, e Pindo Poty, na zona sul de Porto Alegre. Um informe de 22 de maio da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), ligada ao Ministério da Saúde, aponta que 16.691 indígenas foram afetados pelas enchentes de forma direta ou indireta, um total de mais de 5 mil famílias.
Em tempo 2: A NASA divulgou uma nova imagem de satélite que mostra a extensão e a profundidade das inundações que atingiram o RS em maio. A imagem mostra que a água alcançou mais de 5 metros acima do nível do solo em grandes áreas, principalmente ao redor de Porto Alegre. Os dados mostram que as enchentes atingiram seus níveis mais profundos nos municípios próximos ao Guaíba, no delta do rio Jacuí, informa o Poder 360.
Em tempo 3: A Secretaria Estadual da Saúde do RS confirmou na 4ª feira (5/6) mais duas mortes por leptospirose após os temporais e enchentes. Com isso, o estado chega a 15 vítimas da doença, informam g1, Agência Brasil e UOL. As mortes mais recentes ocorreram em Novo Hamburgo, um homem de 51 anos, e em Igrejinha, um homem de 50 anos. Até agora, todas as vítimas da doença são do sexo masculino.
ClimaInfo, 7 de junho de 2024.
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