Silveira acredita “piamente” que IBAMA dará licença para poço na foz do Amazonas

28 de junho de 2024
Silveira IBAMA licença poço foz do Amazonas
Roque de Sá/Agência Senado

Ministro de Minas e Energia repete argumento duvidoso de que Brasil precisa “conhecer potencialidades” e que poço de combustíveis fósseis na foz é só “pesquisa”.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse acreditar “piamente” que o IBAMA dará sinal verde para a Petrobras perfurar um poço para exploração de combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas. Coincidentemente, a “crença” de Silveira se dá dias após o presidente Lula defender a perfuração.

“Acredito piamente que vai ser dado de forma técnica e ambientalmente correta para o direito do Brasil conhecer suas potencialidades, já que estamos discutindo ainda a fase de pesquisa e não a sua exploração”, disse Silveira em entrevista a jornalistas na 4ª feira (26/6) durante o 12º Fórum de Lisboa, em Portugal, relatam Poder 360, Investing.com, Brasil 247, MSN e Terra.

Novamente, Silveira usa argumentos duvidosos para defender energia suja na Amazônia. Um deles é tentar escamotear a essência da atividade petrolífera, ao dizer que a Petrobras perfurar um poço para verificar a existência de petróleo na foz do Amazonas não é exploração e sim “pesquisa”. Lula adotou tática similar ao afirmar que a perfuração seria para “medição”.

Outra argumentação duvidosa do ministro de Minas e Energia é tratar a exploração da foz do Amazonas como um “direito do Brasil conhecer suas potencialidades”. Ele, assim como Lula, atrela os combustíveis fósseis a desenvolvimento econômico.

Foi assim também no primeiro governo de Lula quando da descoberta do pré-sal, em 2006, lembram Shigueo Watanabe Jr. e Alexandre Gaspari, do ClimaInfo, no Valor. Mas, 18 anos depois, o Brasil continua patinando. As disparidades sociais permanecem gritantes, inclusive nos municípios que recebem royalties. O fundo federal criado com recursos do pré-sal para financiar saúde e educação não fez os indicadores dessas áreas melhorarem como poderiam e deveriam.

“O desenvolvimento do pré-sal joga por terra a ‘riqueza’ do ainda incerto petróleo da foz do Amazonas – o próprio Lula admite a dúvida ao dizer ‘se forem verdade as previsões’. Foram sete anos entre o anúncio de Tupi, o primeiro campo descoberto no pré-sal, e o início de sua produção comercial, mesmo com uma infraestrutura completa de fornecimento de bens e serviços no Rio de Janeiro e em São Paulo ‘colada’ na descoberta. Não é o caso do Amapá e da foz do Amazonas. A própria Petrobras admitiu que demoraria pelos menos seis anos entre o anúncio de uma descoberta no litoral amapaense e o início da produção comercial. Depois, portanto, de 2030, quando a demanda por petróleo já estará em queda, segundo a previsão da AIE [Agência Internacional de Energia].”

A indústria dos combustíveis fósseis é conhecida por privatizar as rendas e lucros e deixar que os países e populações arquem com os prejuízos ambientais e sociais que ela mesma provoca. Portanto, as “riquezas” proclamadas por Lula e Silveira não se confirmam. Além disso, aumentar a produção e a queima de combustíveis fósseis vai agravar as mudanças climáticas. E o Brasil vem sofrendo com os eventos extremos.

“A cobrança feita por Lula aos países desenvolvidos na COP28, para que liderem a eliminação dos combustíveis fósseis na matriz energética global, é justa. Foram eles quem mais contribuíram para a atual crise climática queimando carvão, petróleo e gás. Mas isso não elimina a responsabilidade do Brasil nessa tarefa. Prometer uma ‘riqueza’ ilusória renderá mais prejuízo do que lucro. As águas no Rio Grande do Sul e o fogo no Pantanal estão aí para comprovar”, avaliam Watanabe Jr. e Gaspari.

Em tempo: O Brasil ainda não tem data para lançar e implementar um plano nacional de transição energética. Desde o fim de abril, o Observatório do Clima tenta obter detalhes sobre o planejamento, mas o governo tergiversa. Por outro lado, os combustíveis fósseis continuam sendo beneficiados mesmo diante de tragédias climáticas cada vez mais graves. Os privilégios vão desde verba robusta no PAC a incentivos para o gás na Amazônia. Os benefícios ao petróleo, ao gás e ao carvão ilustram a contradição do governo federal que colocou a transição energética como prioridade desde o início da gestão, em janeiro de 2023, reforça o OC, em análise publicada também pelo ((o))eco.

 

 

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ClimaInfo, 28 de junho de 2024.

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