Prefeitura alega que magnitude dos eventos climáticos levou à calamidade, ignorando relatório de 2014 que já mostrava problemas em comportas, muro e casas de bombas.
As chuvas extremas que atingiram o Rio Grande do Sul durante o mês de maio escancararam falhas no sistema de proteção contra cheias da capital, Porto Alegre. Comportas não resistiram à elevação do lago Guaíba, e apenas quatro das 23 estações de bombeamento da cidade funcionavam quando as inundações começaram.
Em resposta a uma ação civil pública movida por entidades expondo esses problemas, o juiz Thiago Notari Bertoncello, da 7ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca de Porto Alegre, deu até 10 dias, a partir de 12 de junho, para que a prefeitura apresentasse um plano para prevenir novas inundações e mitigar danos das enchentes de maio. A prefeitura, porém, pediu reconsideração da decisão judicial, informa a Matinal.
Para a prefeitura, houve “inocorrência de omissão estatal” – ou seja, não teria havido descuido por parte do poder público – e já existem planos e ações locais em curso para resposta à calamidade pública. Entre os argumentos usados no pedido está a magnitude do evento climático.
A GZH lembra que, no final de 2014, um relatório entregue à antiga concessionária do Cais Mauá, à prefeitura e ao extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) indicou problemas na proteção ao Centro Histórico da cidade. A ineficácia do sistema antienchente também foi detectada no Plano Municipal de Saneamento de 2015. Outros dois avisos foram feitos: um em 2018, num parecer técnico de funcionários municipais, e outro em novembro de 2023, quando o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) apontou problemas em quatro estações de bombeamento logo após a cidade registrar inundações e destacou a “necessidade urgente” de manutenção.
Enquanto isso, moradores de alguns bairros de Porto Alegre ainda sofrem por conta da enchente e cobram soluções. No fim de semana passado, a população foi às ruas nos bairros Sarandi, fortemente impactado, na Zona Norte da capital, e Guarujá, na Zona Sul, relata o Brasil de Fato.
Em tempo 1: Somente dois meses após o início das enchentes Porto Alegre voltou a ter todas as suas casas de bombeamento de águas funcionando, informam g1 e GZH. Na 2ª feira (1/7), o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) religou a casa de bombas 21, no Sarandi. Era a última das 23 Estações de Bombeamento de Água Pluvial (Ebaps) da cidade fora de operação.
Em tempo 2: Em Alvorada, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, a população ainda convive com alagamentos, lixo espalhado pelas inundações e esgoto a céu aberto, mostra o g1. A prefeitura não informou o número de pessoas afetadas, mas disse que são “centenas”. No ápice da enchente, foram 10 mil atingidos em Alvorada.
Em tempo 3: Chegou a 180 o número de mortos pela tragédia climática do Rio Grande do Sul, informa o Correio Braziliense, e 32 pessoas continuam desaparecidas. A mais recente vítima foi encontrada em Roca Sales. Os municípios gaúchos com mais mortes são Canoas (31), Roca Sales (14) e Cruzeiro do Sul (12).
Em tempo 4: Cientistas da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) investigam o desaparecimento de tartarugas da Praia do Cassino, em Rio Grande, no extremo sul gaúcho, após as enchentes, relata o g1. Nos últimos dois meses, ao menos 50 tartarugas deveriam ter sido encontradas nas proximidades.
Em tempo 5: Poucos dias antes dos temporais que devastaram o Rio Grande do Sul, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) utilizou seu cacife técnico para produzir propaganda para os combustíveis fósseis, principais causadores da crise climática. “Nossos tomadores de decisão e negociadores da COP30 fariam bem em ouvir mais o eco da catástrofe gaúcha e menos as posições que lobistas do petróleo insistem em defender em pleno 2024”, avalia Shigueo Watanabe Jr. na Folha.
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ClimaInfo, 04 de julho de 2024.
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