Trump apela para o absurdo em ofensiva contra ação climática nos EUA

Donald Trump guerra climática
Natilyn Photography / Unsplash

O ex-presidente republicano, que busca retornar à Casa Branca, mistura os barcos elétricos, tubarões, fogões, chuveiros e outros em seu discurso negacionista da crise climática.

Depois de quase uma década monopolizando o debate político nos EUA, Donald Trump e suas insanidades não surpreendem a quase ninguém mais. A mistura de ignorância, arrogância e ódio já rendeu inúmeras falas polêmicas, algumas cômicas e outras assustadoras. Mas sua saga eleitoral em 2024 reservou um novo alvo no playbook de absurdos trumpistas: a crise climática, negada até o último fio de cabelo tingido de laranja do ex-presidente.

O Guardian destacou como Trump vem usando a crise climática como mais um tema na “guerra cultural” entre republicanos e democratas. Os alvos são variados: carros elétricos, aerogeradores, critérios de eficiência energética, medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa. Mas um alvo curioso recente chamou a atenção: barcos elétricos.

Em um comício em Nevada no mês passado, Trump contou uma história tão confusa quanto o desempenho do presidente Joe Biden no debate eleitoral da semana passada. Citando um “senhor” com o qual teria conversado, o ex-presidente atacou um problema que não existe – barcos elétricos dando choque nas pessoas. Eis a fala transcrita pela MSNBC e traduzida aqui.

“Então eu disse, ‘deixe-me fazer uma pergunta’, e o [senhor, supostamente um construtor de barcos na Carolina do Sul] disse ‘ninguém nunca fez essa pergunta’, e deve ser por causa do MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que habita as fixações mentais de Trump], meu relacionamento com o MIT – muito inteligente. Ele diz, eu digo, ‘o que aconteceria se o barco afundasse com seu peso? e você está no barco e tem essa bateria tremendamente poderosa e a bateria está agora submersa e há um tubarão que está aproximadamente a 10 jardas ali?’”.

Depois de explanar sobre ataques de tubarões a banhistas, Trump voltou à carga – sort of. “Então eu disse, então tem um tubarão a 10 metros do barco, eu levo um choque se o barco estiver afundando? A água passa por cima da bateria e levo choque, ou eu pulo por cima do tubarão e não levo um choque? (…) Mas você sabe o que eu faria se houvesse um tubarão ou você fosse eletrocutado, eu levaria um choque toda vez. Eu não vou chegar perto do tubarão. Então nós vamos acabar com isso”. Pois é…

Tubarões à parte, as insanidades retóricas de Trump não escondem as reais intenções políticas do candidato republicano e seus aliados na indústria de combustíveis fósseis: destruir todas as políticas climáticas criadas por Biden nos últimos anos e resistir a qualquer mudança para fontes renováveis de energia.

Se eleito, uma das primeiras medidas de Trump será repetir seu gesto de 2019 e retirar novamente os EUA do Acordo de Paris. Segundo o site POLITICO, a ação pode ser ainda mais radical: os republicanos estariam estudando a saída dos EUA da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), o que retiraria o maior emissor histórico de gases de efeito estufa do mundo do único regime multilateral de ação climática.

“Ele disse que vai voltar vingativo [à Casa Branca]”, afirmou à CNN o ex-secretário de estado John Kerry, que atuou como enviado especial do governo Biden para as negociações climáticas nos últimos três anos. “Seria realmente um resultado catastrófico”.

A Rolling Stone destacou como essa ofensiva anticlima está sendo organizada dentro da campanha de Trump no âmbito do polêmico “Project 2025”. Entre as medidas que estão sendo preparadas, está a derrubada da Lei de Redução da Inflação (IRA), autorizações imediatas para exploração de petróleo em Terras Públicas e offshore, extinção de programas e projetos relacionados à energia limpa e redução de emissões de carbono, desmonte da Agência de Proteção Ambiental (EPA), entre outras.

 

ClimaInfo, 5 de julho de 2024.

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