Bancada ruralista quer fim da Moratória da Soja na Amazônia, que impede compra de grãos produzidos em área desmatada

16 de julho de 2024
Bancada ruralista Moratória da Soja Amazônia compra grãos produzidos área desmatada
Vinícius Mendonça/Ibama

Moratória foi firmada pela 1ª em 2006 por associações que controlavam mais de 90% do mercado de soja no Brasil e organizações da sociedade civil.

A bancada ruralista do Congresso Nacional parece nunca estar satisfeita quando se trata de defender práticas antiambientais e anticlimáticas. Não à toa é uma das principais entusiastas do “Pacote de Destruição”, nome dado pelo Observatório do Clima a um conjunto de quase 30 projetos de lei e propostas à constituição que pretendem flexibilizar a legislação ambiental e assim “deixar a boiada passar” – em alguns casos, literalmente.

Uma audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados realizada na 6ª feira (12/7) revelou que setores do agronegócio querem acabar com a Moratória da Soja, que visa eliminar o desmatamento da cadeia de produção do grão no país, revela o Brasil de Fato, em matéria reproduzida pelo ICL Notícias. “Vamos derrubar a Moratória da Soja no Brasil”, apostou a deputada Coronel Fernanda (PL-MT), autora do pedido de realização da audiência.

A Moratória da Soja foi estabelecida por um acordo entre organizações da sociedade civil, o governo federal e parte da indústria que utiliza o grão como matéria-prima. Foi firmada pela primeira vez em 2006 pelas associações industriais que controlavam, à época, mais de 90% do mercado de soja no Brasil, além de organizações da sociedade civil.

O acordo estabelece o compromisso das empresas signatárias de não adquirirem soja produzida em áreas desmatadas após 22 de julho de 2008, ano em que o governo brasileiro aderiu ao pacto. Inicialmente, tinha validade de dois anos, mas passou a ser renovado de forma indefinida a partir de 2016.

A partir do acordo, as propriedades rurais localizadas em municípios com mais de 5 mil hectares de plantação de soja são monitoradas via satélite pelo Sistema PRODES, do INPE. O monitoramento busca identificar se há ampliação de área desmatada para lavoura acima do limite estabelecido pelo Código Florestal (CF), que é de 20% do imóvel rural na Amazônia.

O principal argumento dos ruralistas contrário ao instrumento é o suposto impacto negativo no desenvolvimento dos municípios produtores do grão, dada a restrição de desmatamento no bioma amazônico para a ampliação do cultivo. O que é rebatido com dados pelas organizações da sociedade civil.

“Enquanto os municípios monitorados pela Moratória tiveram redução de 69% no desmatamento (entre 2009 e 2022), a área plantada de soja na Amazônia cresceu 344%. Neste período, o Brasil se tornou o maior exportador de soja no mundo e é responsável por mais de um terço do grão produzido globalmente. Tais dados demonstram que é possível crescer com compromissos ambientais firmes”, frisa a resposta conjunta do Greenpeace Brasil e do WWF-Brasil enviada à comissão da Câmara, mas que sequer foi mencionada na audiência.

Mesmo tendo sequestrado a pauta legislativa, os ruralistas querem também ver sua “boiada passando” com as bênçãos do Executivo brasileiro. Não à toa a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (APROSOJA-MT) foi uma das patrocinadoras da última edição da Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC Brasil), no início de julho, em Camboriú (SC), que reuniu políticos da extrema direita brasileira.

O estatuto da organização proíbe o apoio a eventos político-partidários, informa o Terra. Apesar da presença majoritária de aliados do ex-presidente da “boiada” no encontro e do próprio, a APROSOJA-MT diz que a CPAC não se enquadra na restrição da entidade. Então tá.

Enquanto o “ogronegócio” afia suas garras, um estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Museu Paraense Emílio Goeldi publicado na revista Ambiente e Sociedade aponta um prejuízo de R$ 10 bilhões em serviços ecossistêmicos com o avanço da soja no leste da Amazônia. Isso significa que a natureza, exaurida, promove menos benefícios aos humanos, com alteração no regime das chuvas, aumento de temperatura média anual e redução de polinização, diminuição de matérias-primas disponíveis, entre outros, detalha o DW, em matéria reproduzida pelo O Povo.

 

 

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ClimaInfo, 17 de julho de 2024.

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