Entre perdas e superação: as histórias de sobreviventes de desastres climáticos no Brasil

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Michele Calvello/imaggeo

“Minha vida virou de cabeça para baixo em sete segundos”, conta Cristiane Gross, que perdeu parentes no temporal que atingiu Petrópolis em fevereiro de 2022.

Para mostrar que há gente por trás da crise climática, O Globo conversou com sete vítimas de desastres climáticos no país, pessoas que sobreviveram a uma catástrofe ou tiveram suas vidas afetadas de alguma forma. Muitas vezes essas histórias de vida acabam diluídas por preocupações com os prejuízos econômicos dessas catástrofes.

Os depoimentos foram colhidos no âmbito do Climate Disaster Project, iniciativa da Universidade de Victoria, no Canadá, que trabalha com comunidades afetadas pelas mudanças climáticas no mundo para ajudá-las a contar as suas histórias.

No Rio de Janeiro, Cristiane Gross, de Petrópolis, região serrana, e Larissa Constant, de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, viveram dramas após fortes chuvas atingirem as duas cidades em 2022. Cristiane diz que sua vida “virou de cabeça para baixo em sete segundos”, quando 250 mm de chuvas em apenas 6 horas provocaram deslizamentos que destruíram sua casa e mataram parentes seus. Já Larissa viu sua casa invadida pelas águas do rio Botas após uma “chuva que não era normal de acontecer em mil anos”.

Também no Rio de Janeiro, mas no norte do estado, Sônia Ferreira contou que se sente como morando num “castelo de areia”. Ela mora em Atafona, distrito da cidade de São João da Barra que vem sendo engolido pelo avanço do mar. Sua casa original, construída em 1978, já foi levada pelas águas do oceano. Agora ameaça a residência de sua filha, onde mora.

Fogo e seca marcaram as vidas da ribeirinha Rosely dos Santos Bastos e da pescadora Juliana Magalhães, que vivem na região do Pantanal, e do líder indígena José Fiuza Xakriabá, de São João das Missões, em Minas Gerais. Rosely “viu tudo queimado” nos incêndios que atingiram o Pantanal em 2020, enquanto Juliana lembra da forte seca na região em 2021 e secou o rio Taquari: “Não era nem lama mais. Era seco de você pisar como se fosse pedra”. Já a seca que atinge a Terra Indígena Xakriabá desde 2013 fez as crianças do território colocarem na cabeça que “a qualquer momento podem morrer de sede”, desabafa o cacique José Fiuza.

Também em Minas Gerais, Tatiana Oliveira é mãe e vendedora de cosméticos em São Joaquim de Bicas e integra o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Construiu sua casa próximo ao rio Paraopeba, contaminado por rejeitos de mineração após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. E teve de reviver o trauma desse desastre após fortes chuvas atingirem a região em janeiro de 2022. A lama que assoreava o rio voltou à superfície, trazendo, junto com a água, o espectro da contaminação do passado.

“Foram cinco dias de chuvas intensas, mais cinco dias aguardando a água baixar. E quando abaixou a água, a gente viu a dimensão. Era rejeito da Vale que estava até o primeiro andar. Tinha rejeito dentro das residências, ficou um rastro de lama. A gente reviveu o crime de Brumadinho em 2019. O crime cuspiu na nossa cara novamente”, desabafou Tatiana.

 

 

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ClimaInfo, 31 de julho de 2024.

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