Morre Tuíre Kayapó, símbolo da luta indígena contra Belo Monte

11 de agosto de 2024
Tuíre Kayapó
Reporter Brasil

Protagonista de uma das cenas mais famosas da mobilização indígena contra a usina de Belo Monte, a líder indígena morreu em Redenção (PA) de câncer.

A líder e ativista indígena Tuíre Kayapó Mẽbêngôkre, de 54 anos, faleceu no último sábado (10/8), segundo informou o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Kayapó do Pará. Tuíre sofria de câncer no útero desde o ano passado e recebia cuidados paliativos em um hospital em Redenção, no sul do estado.

Tuíre virou um dos símbolos da mobilização indígena contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte (na época, batizada de Kararaô) em 1989, quando tocou a lâmina de seu facão no rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, durante o 1º Encontro das Nações Indígenas do Xingu em Altamira (PA).

“Você nasceu na cidade e então veio para cá atacar nossa floresta e nossos rios. Você não vai fazer isso. A eletricidade não vai nos dar comida. Precisamos que nossos rios fluam livremente. Nosso futuro depende disso. Nós não precisamos da sua represa”, disse Tuíre na ocasião.

A cena foi registrada por fotógrafos e correu o mundo e chamou a atenção para a luta indígena contra o projeto, o que foi decisivo para sua paralisação por duas décadas. Posteriormente, a usina foi redesenhada sem represa para o modelo de fio d’água e teve seu nome mudado para Belo Monte. Mesmo com protestos das comunidades indígenas, o projeto foi tirado do papel nos anos 2010 pelo governo federal.

“Meu corpo representa o facão, e o facão representa meu corpo, pois são uma única força. Uma força e uma luta. Uma história. Sou mulher, mas tenho a mesma determinação que um homem na hora da raiva. Tenho os mesmos direitos que um homem. Não tenho medo de nenhum homem. Não tenho medo de ninguém, pois possuo a mesma força que vocês representam ter”, disse Tuíre à Repórter Brasil em entrevista no ano passado.

Neta de caciques por pai e mãe, Tuíre foi precursora de uma geração de lideranças indígenas femininas, abrindo caminho para nomes como Sônia Guajajara, hoje ministra dos Povos Indígenas; Joenia Wapichana, ex-deputada federal e atual presidente da FUNAI, e a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG).

“Antigamente, eu era a única mulher que ia para Brasília com os homens, e eu atuava bem. Na minha luta, defendo meu Povo, falo com os brancos; envelheci fazendo isso. Minhas parentas veem minhas fotos, vão aprendendo as coisas e agora somos muitas”, comentou Tuíre.

“Tuíre Kayapó dedicou sua vida à proteção de seu Povo e de seu território, sempre guiada pela busca por direitos e respeito aos Povos Indígenas. Seu legado de resistência continuará a inspirar aqueles que lutam por um Brasil mais justo para os Povos Indígenas”, afirmou a FUNAI em nota.

Tuíre deixa o marido Kôkôto Kayapó, também conhecido como cacique Dudu, duas filhas e netos. Ela deve ser sepultada na aldeia onde morava, a Gorociré, na Terra Indígena Kayapó.

Agência Brasil, Amazônia Real, Brasil de Fato, CNN Brasil, g1, Metrópoles, UOL e VEJA, entre outros, repercutiram a notícia.

 

ClimaInfo, 12 de agosto de 2024.

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