Seca assola 9 em cada 10 Terras Indígenas na Amazônia

seca Amazônia 2024
Dados CEMADEN/análise InfoAmazônia

Quase 360 territórios na região enfrentaram estiagem em julho, o que leva a insegurança alimentar e hídrica; Amazonas é o estado com mais TIs afetadas. 

Um levantamento do InfoAmazonia mostrou como a seca na Amazônia está afetando as comunidades indígenas. A partir de dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) referentes a julho, foram identificadas 358 Terras Indígenas em situação de seca no bioma, o que representa 92% dos territórios da região.

Para comparação, em julho do ano passado, 260 TIs estavam em situação de seca, um número 37% inferior ao registrado no mesmo mês deste ano. A seca extrema é ainda mais intensa neste ano: em julho de 2023, apenas um território indígena experimentava essa situação; neste ano, o número saltou para 17.

Das 358 TIs sob seca na Amazônia, 192 (53,6%) foram classificadas em situação de seca severa em julho de 2024, enquanto 41% enfrentavam seca fraca ou moderada. O Amazonas concentra a maior parte das TIs em situação de seca na Amazônia Legal, com 146 territórios, seguido por Mato Grosso (68) e Pará (55).

Dados da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde indicam que 2,8 mil aldeias na Amazônia Legal não contam com estrutura de abastecimento de água. A situação é particularmente preocupante no Distrito Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Solimões, no Amazonas, que apresenta o pior nível de abastecimento de água de todo o Brasil – mais de 32 mil pessoas não têm acesso a poços ou caminhões-pipa para o fornecimento de água.

Uma das TIs é a Terra Cacau do Tarauacá, localizada no município de Envira (AM). Em julho do ano passado, o território viveu uma situação de normalidade hídrica. Agora, o cenário é completamente diferente, com as comunidades indígenas locais sofrendo com seca extrema.

A seca não prejudica apenas a disponibilidade de água para as necessidades básicas dos indígenas, mas também sua segurança alimentar. A pesca, atividade crucial para a alimentação amazônica, é cada vez mais difícil. Os indígenas são forçados a sair de seus territórios a pé para comprar comida nas cidades.

“Ano passado já secou, e hoje está secando muito o rio. É muito difícil ir pra cidade, porque o lago secou muito. Da minha aldeia pra chegar no rio, é 40 minutos a pé”, descreveu o indígena Marcos Kulina. O Povo Kulina vive às margens do rio Tarauacá, afluente do rio Juruá, mas a intensidade da estiagem impede a navegação.

“A gente continua ainda com precipitação muito abaixo do que deveria estar acontecendo. Agora, a gente está entrando no período de seca, os meses de julho e agosto normalmente são meses de pouquíssima precipitação na Amazônia de uma forma geral. Só que a seca já vai encontrar as bacias e os rios em condições de deficiência”, explicou Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

 

ClimaInfo, 16 de agosto de 2024.

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