Brasil tenta se posicionar como líder global na transição energética e na agenda climática, mas explorar petróleo na região amazônica joga essa ambição por terra.
A pressão para que o IBAMA libere a Petrobras para explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas aumentou desde que Magda Chambriard chegou à presidência da petroleira. E vem de todos os lados. Desde setores do governo que querem “passar a boiada” sobre as avaliações técnicas do órgão ambiental a entidades empresariais e corporações, que bradam o “alto potencial” petrolífero da região – o que não é comprovado – e anunciam inovações tecnológicas que reduziriam riscos de vazamentos.
O que é certo é a altíssima sensibilidade ambiental da foz do Amazonas e o quase nulo conhecimento sobre os impactos que a atividade petrolífera pode causar na região. Para o WWF-Brasil, a foz do Amazonas precisa de mais pesquisas para a compreensão do seu equilíbrio ecológico, incluindo pontos como a descarga de sedimentos do rio Amazonas e do Grande Sistema de Recifes do Amazonas. Além disso, há correntes marítimas muito fortes e dinâmicas costeiras pouco estudadas, que diferem dos locais já explorados no Brasil pela indústria petrolífera.
Por isso, Gláucia Fernandes, pesquisadora de ESG do Coppead/UFRJ, ressalta no Valor que tecnologias avançadas e práticas rigorosas podem ajudar a mitigar riscos, mas a complexidade da foz torna difícil garantir que não haverá impactos adversos.
A especialista ainda chama atenção para a contradição do governo brasileiro. O país que sediará eventos mundiais nos quais a preservação ambiental e as mudanças climáticas serão temas de destaque – a reunião de líderes do G20, em novembro, e a COP30, em 2025 – e que quer ser líder global na transição energética e na agenda do clima é o mesmo que insiste em explorar combustíveis fósseis na Amazônia.
Mas nada disso convence os defensores da produção de petróleo no Brasil “até a última gota”. Na 4ª feira (4/9), Magda Chambriard disse que “se Deus quiser” até dezembro o IBAMA dará a licença para a Petrobras perfurar no bloco FZA-M-59, na foz, a 160 km de Oiapoque, no litoral do Amapá, informam Poder 360 e Investing.com .
Tem mais petroleiras esperando “a boiada passar” sobre a foz. No Valor, o CEO da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, disse que a empresa pode explorar a região se o governo brasileiro decidir “abrir e avançar” na área.
Surpresa zero. Não serão as petroleiras que vão ligar para o altíssimo risco ambiental da foz do Amazonas e a urgência de se eliminar os combustíveis fósseis.
Em tempo 1: Indígenas e representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) fizeram um ato contra a exploração de combustíveis fósseis na Amazônia em frente à unidade do IBAMA em Macapá (AP) na 5ª feira (5/9). O MAB ainda protocolou documentos no órgão ambiental e também no governo do Amapá nos quais denuncia o desmatamento disfarçado de “manejo sustentável”.
Em tempo 2: Uma mancha densa e oleosa decorrente de um derramamento cobre parte de um estuário no Parque de Yasuní, na Amazônia equatoriana. Na área rica em diversidade, o Povo Indígena Waorani clama pelo fim da exploração petrolífera, destaca a IstoÉ. Em agosto do ano passado, um histórico plebiscito determinou o fim da atividade petrolífera em Yasuní e deu 1 ano para o descomissionamento das instalações. Mas até agora isso não aconteceu, o que preocupa os Waorani, que recentemente fizeram um protesto pedindo ao governo que cumpra o que foi decidido pela população.
ClimaInfo, 6 setembro de 2024.
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