
O peso de décadas de guerras e o domínio brutal do Talibã colocam afegãos em uma situação de vulnerabilidade grave aos efeitos das mudanças climáticas.
Há 23 anos, o mundo assistia chocado aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, que vitimaram quase 3 mil pessoas. Fora os memoriais em Washington e Nova York, os sinais da devastação causada pelos ataques são tênues nos EUA. Mas a mais de 11 mil km de distância, no Afeganistão, os escombros da guerra desencadeada pelos ataques não apenas seguem visíveis, mas dominam a paisagem.
Hoje, o Afeganistão segue tão destruído e destituído como há pouco mais de duas décadas. A “Guerra Contra o Terror” fracassou retumbantemente no país: os fundamentalistas islâmicos do Talibã, retirados do poder em 2021 pelo apoio dado ao grupo terrorista Al-Qaeda de Osama bin Laden, não apenas dão as cartas em Cabul, mas dominam completamente o país.
O isolamento internacional do Afeganistão acontece no pior momento possível. O país é particularmente vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas, e a intensificação do clima extremo atingiu em cheio o povo afegão. Sem ajuda da comunidade internacional, a população vem enfrentando sozinha uma procissão de eventos extremos nos últimos anos, a maior parte relacionada ao calor extremo e à seca.
A Radio Free Europe abordou os efeitos da seca severa que assola o Afeganistão. Em muitas áreas a agricultura – que já é difícil por conta do terreno montanhoso – se tornou impossível. Essas mesmas áreas enfrentaram há pouco tempo fortes inundações, que também causaram perda de lavouras. Como resultado, milhares de pessoas deixaram suas terras e migraram para as cidades, em especial a capital Cabul.
A fome é um problema crônico no Afeganistão, especialmente entre bebês e crianças. A BBC descreveu a situação dramática de um hospital em Jalalabad, no leste do país. Só nesse local, 700 crianças morreram nos últimos seis meses, mais de três por dia. Essa mortandade poderia ser ainda maior se não fosse pela ajuda internacional que ainda persiste, mantida pela UNICEF e pelo Banco Mundial.
O bloqueio internacional é resultado da frustração com a política do Talibã no que diz respeito aos Direitos Humanos e aos Direitos das Mulheres e Meninas. Como em sua primeira passagem pelo poder, os fundamentalistas extinguiram a educação feminina em todos os níveis e voltaram a impor restrições draconianas à conduta pública e particular das mulheres.
Isolados, os afegãos tentam responder ao desafio climático com seus próprios instrumentos e reflexões. Em julho passado, o Washington Post publicou uma reportagem interessante sobre como a população e o próprio Talibã enxergam o problema das mudanças do clima e as ações necessárias para evitar suas piores consequências. O atual governo reconhece a crise climática como uma realidade que está destruindo “a obra de Deus”, ainda que alguns grupos internos enxerguem o problema por uma ótica mais “apocalíptica” ou até mesmo conspiracionista.
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ClimaInfo, 12 de setembro de 2024.
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