Explosões para instalações de parques eólicos racharam casas, quebraram cisternas e mexeram com o habitat de animais selvagens, que invadem as comunidades para buscar alimentos.
O planeta precisa com urgência eliminar os combustíveis fósseis e expandir as fontes renováveis de energia para frear as mudanças climáticas. Mas essa transição energética precisa ser justa. Isso significa que a implantação de parques eólicos e solares deve respeitar comunidades e o meio ambiente, sob pena de repetir o modelo de desenvolvimento econômico exploratório que nos trouxe à crise climática atual.
Na corrida por energia renovável o Brasil tem vantagem. No entanto, o que se viu – e ainda se vê – no país, principalmente no Nordeste, são projetos eólicos e solares causando imensos prejuízos financeiros e até mesmo de saúde a moradores das localidades onde são instalados. Essa situação fez com que comunidades nordestinas lançassem o guia “Salvaguardas socioambientais para energia renovável”, com mais de 100 recomendações.
Além disso, as Comunidades Tradicionais do Nordeste estão também criando movimentos de resistência à instalação de parques eólicos e solares, relata a Folha. Reclamando – com toda a razão – das empresas, esses grupos propõem uma gestão descentralizada dessas usinas.
Cercadas por parques eólicos e solares no Seridó paraibano, famílias enfrentam o breu da noite para chegarem à casa de Zuíla Santos. A líder do Quilombo da Pitombeira recebe as visitas para falar sobre os problemas vividos na comunidade que ocupa 354 hectares no município de Várzea. Alguns deles são causados, segundo Zuíla, pelos parques. “É como na época da colonização do Brasil. Trazem uns presentinhos e querem que a gente entregue tudo”, afirma.
As queixas que apresentam são comuns às de outro quilombo da região: o Serra do Talhado, em Santa Luzia. Ambos são centenários e cortados por ventos constantes. Explosões para instalações dos parques eólicos racharam casas, quebraram cisternas e mexeram com o habitat de animais selvagens. Eles passaram a invadir as comunidades em busca de alimentos.
Os quilombos são vizinhos aos parques eólico Chafariz e solar Luzia, ambos da Neoenergia, e do complexo solar Santa Luzia, do grupo Rio Alto. Sentem os efeitos inclusive da mudança da paisagem. Mas, surpreendendo zero pessoas, as duas empresas afirmam desconhecer as reclamações.
Se as usinas em terra causam muitos transtornos, comunidades já temem a futura aprovação da regulação das eólicas offshore. Cercada por eólicas em terra, a comunidade de Enxu Queimado, no litoral do Rio Grande do Norte, teme que a instalação de turbinas no mar comprometa seu modo de vida tradicional, destaca a Repórter Brasil, em matéria replicada pelo UOL.
No município de Pedra Grande, onde fica Enxu Queimado, 26% do território está ocupado com parques eólicos – uma das maiores concentrações do Rio Grande do Norte. Devido à potência dos ventos no local, a área marítima também tem sido cobiçada para projetos de eólicas offshore.
As empresas responsáveis pelos parques em terra – Serveng e Copel – cercaram as dunas vizinhas a Enxu Queimado e também os territórios até então de uso coletivo, deixando livre um único acesso por terra à comunidade. Também aterraram lagoas e desmataram parte da área para instalar as torres que agora tomam a paisagem.
A proximidade entre a comunidade e os parques e a possível restrição da área de pesca por causa das eólicas offshore que poderão ser instaladas na região assusta a população de Enxu. “Você acha que as empresas vão deixar barquinhos circulando para lá e para cá? A segurança vai ser enorme, e a gente não vai ter como pescar”, desabafa Maria Joelma Martins, presidente da colônia de pescadores de Enxu, ao lembrar a relação já conflituosa com as plataformas de petróleo que foram instaladas em águas rasas do litoral potiguar anos atrás.
ClimaInfo, 17 setembro de 2024.
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