Desmatamento no Cerrado desde 2023 emitiu quase o mesmo  que toda a indústria

desmatamento Cerrado
Adriano Gambarini/WWF Brasil/Divulgação

Levantamento do IPAM estima que o desmatamento do Cerrado entre janeiro de 2023 e julho de 2024 emitiu mais de 135 milhões de toneladas de CO2.

O desmatamento do Cerrado no último ano e meio foi responsável por emissões de gases de efeito estufa quase equivalentes às da indústria brasileira. Essa é a conclusão de um novo estudo divulgado pelo IPAM, que estimou que a perda de vegetação nativa no bioma lançou mais de 135 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera entre janeiro de 2023 e julho de 2024, quase o mesmo que as emissões de todo o parque industrial nacional, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC).

Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélite do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) Cerrado. O levantamento identificou que as perdas de formações savânicas, a mais predominante no bioma, representaram 65% do total de emissões associadas ao desmatamento, com cerca de 88 milhões de toneladas de CO2.

A savana do Cerrado é a mais rica e biodiversa do planeta. No entanto, como o IPAM lembrou, sua preservação esbarra em problemas crônicos da política ambiental, que costuma priorizar a proteção de formações florestais em detrimento de outros tipos de ecossistemas.

O fato de que mais de 60% da vegetação remanescente do Cerrado estar em áreas privadas também é um obstáculo. “Pelo Código Florestal, essas propriedades podem legalmente desmatar até 80% da vegetação nativa em seus terrenos. É um cenário sensível para a proteção do bioma, que expõe a lacuna de políticas de incentivo para evitar o desmatamento, ainda que legal, e demanda também mais fiscalização para averiguar o desmate ilegal”, explicou Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM responsável pelo SAD Cerrado.

De acordo com o estudo, as emissões decorrentes do desmatamento no Cerrado se concentraram na região do MATOPIBA, a fronteira agrícola que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Ao todo, 80% das emissões vieram de perda de vegetação na região, um total de 108 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a 50% das emissões totais do setor de transportes, segundo dados do SEEG.

Não coincidentemente, esses estados lideraram a relação dos maiores emissores de CO2 decorrentes do desmatamento do Cerrado. O Maranhão, líder de desmate no período analisado (301 mil hectares), liberou 35 milhões de toneladas de CO2. Segundo na lista, com 273 mil hectares desmatados, o Tocantins emitiu 39 milhões de toneladas de CO2.

Agência Brasil, Brasil de Fato, CNN Brasil, g1 e R7, entre outros veículos, repercutiram essas informações.

 

ClimaInfo, 19 setembro de 2024.

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