Em discurso antes da Assembleia Geral, o presidente relacionou dificuldades da resposta global às mudanças climáticas com o fracasso das reformas do sistema multilateral internacional.
O presidente Lula reiterou suas críticas ao cenário atual do sistema ONU, destacando que o sistema internacional carece de “ambição e ousadia” para enfrentar os problemas atuais, como as mudanças climáticas. Para ele, o fracasso na luta contra a crise climática e a pobreza deixa evidente a necessidade de reformar a ONU, uma pauta que se arrasta há mais de duas décadas.
“A crise da governança global requer transformações estruturais. A pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais”, disse Lula neste domingo (22/9) durante discurso na Cúpula do Futuro, iniciativa da ONU voltada para retomar a agenda da reforma do multilateralismo.
Em sua fala, Lula lembrou o papel central do Brasil na agenda climática atual, a partir da presidência do G20 neste ano e o comando da COP30 em Belém em 2025. Segundo o presidente, o governo brasileiro trabalhará com o secretário-geral da ONU, António Guterres, em prol de um “balanço ético global, reunindo diversos setores da sociedade civil para pensar a ação climática sob o prisma da justiça, da equidade e da solidariedade”.
A despeito da cobrança de Lula, o documento final da Cúpula do Futuro refletiu as divisões atuais do tabuleiro geopolítico global. Como explicou Jamil Chade no UOL, o “Pacto do Futuro” acabou sendo esvaziado por pressões dos próprios países. Ao final, restou um texto que prevê discussões sobre a reforma do Conselho de Segurança da ONU e dos organismos financeiros internacionais, além da regulação de plataformas digitais e inteligência artificial. CNN Brasil, Estadão, Folha, g1, Valor e VEJA, entre outros, também repercutiram a notícia.
O discurso deste domingo deu indícios de qual será o tom da fala de Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU, programada para amanhã (24). Como O Globo destacou, o presidente deve cobrar um engajamento maior dos países desenvolvidos em ações para mitigar os efeitos do aquecimento global. A abordagem seria também uma resposta a eventuais críticas pela situação dos incêndios no Brasil, que chamaram a atenção no noticiário internacional.
Até mesmo a primeira-dama, Janja Lula da Silva, alinhou seu discurso a esse esforço. Durante encontro do Pacto Global – Rede Brasil na sede da ONU em Nova York na última 5ª feira (19), ela denunciou o que chamou de “interesses criminosos de terroristas climáticos” por trás dos incêndios e queimadas no país. Janja também lembrou dos retrocessos ambientais vividos pelo Brasil no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ainda se refletem hoje. UOL e Valor deram mais detalhes.
Ainda sobre a crise do fogo, a Folha informou que a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) encurtou sua passagem por Nova York. A equipe de Marina chegou a analisar a possibilidade da ministra não viajar, mas avaliou que seria importante a participação dela nos eventos principais sobre clima. Ela viajou com o resto da delegação no sábado e deve retornar ao Brasil logo após a fala de Lula na Assembleia Geral nesta 3ª feira.
ClimaInfo, 23 setembro de 2024.
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