Na Rio Oil and Gas, organizações integrantes do OC promovem o “Saldão do Fim do Mundo” para escancarar a culpa das petroleiras pela crise climática.
Cerca de 60% do território brasileiro sofre a pior seca das últimas décadas. De norte a sul, o país arde em chamas, com incêndios recordes na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado e fumaça tornando o ar quase irrespirável mesmo em cidades a milhares de quilômetros de distância dos focos. Há quatro meses, o Rio Grande do Sul vivia a pior tragédia climática registrada no Brasil, com tempestades e inundações sem precedentes. Sem falar nas ondas de calor fora de época.
Mas nada disso importa para a indústria dos combustíveis fósseis, os principais responsáveis pelas mudanças climáticas que causam todos esses eventos extremos. Tanto que na 2ª feira (23/9) a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, CEOs e grandes executivos de petroleiras como Shell, Chevron, Exxon, Equinor e BP, e o secretário-geral da OPEP, Haitham Al-Ghais, inauguraram a feira Rio Oil and Gas [rebatizada de ROG.e]. É o principal balcão de negócios do setor de petróleo e gás fóssil brasileiro. Apesar de neste ano ter como lema “Conectando energias” e falar em “transição energética” e dar “mais protagonismo para novas fontes de energia”.
A presença maciça da indústria de energia suja no Rio de Janeiro, “a capital do G20”, não passou em branco. Organizações da sociedade civil que integram o Observatório do Clima (OC) promoveram na abertura da ROG.e, no Boulevard Olímpico, e em outras regiões da cidade o “Saldão do Fim do Mundo”, um protesto contra a exploração de combustíveis fósseis, relata Jamil Chade no UOL. Cartazes e infláveis dão “nome aos bois”, apontando a responsabilidade das petroleiras pela emergência climática, mostra a Agência Brasil.
“É mais um sinal dúbio que o Brasil dá para o mundo. Enquanto uma parte do governo brasileiro está em Nova York, com foco em discutir soluções para enfrentar a crise climática, outra está aqui recebendo o secretário-geral da OPEP e executivos da indústria do petróleo, ignorando as queimadas, ondas de calor e outros eventos extremos cada vez mais frequentes ao redor do mundo”, explicou Tica Minami, coordenadora de projetos do ClimaInfo.
O descolamento de parte do governo brasileiro da realidade foi confirmado nos discursos na Rio Oil and Gas. Mais uma vez, Magda Chambriard e Alexandre Silveira insistiram na exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas, relatam Folha, O Globo e Valor. A desculpa é a mesma de sempre: reposição de reservas, geração de “riqueza”, blablablá. Sem falar na falaciosa narrativa de que o dinheiro do petróleo é necessário para financiar a transição energética.
Se a indústria dos combustíveis fósseis quisesse mesmo investir em transição energética poderia fazer isso abrindo mão dos subsídios que recebe. Como mostrou um estudo recente do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), repercutido pelo Brasil de Fato, pelo menos 230 empresas ligadas à cadeia de exploração do petróleo no país foram beneficiadas com R$ 226 bilhões em renúncias fiscais desde 2017, primeiro ano completo do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Em tempo: As petroleiras também tiveram uma recepção “calorosa” no início da Climate Week, em Nova York. A campanha “Summer of Heat” organizou uma projeção em grande escala ligando as maiores empresas de petróleo do mundo – Petrobras incluída – aos efeitos destrutivos da crise climática. A ação ocorreu no One Brooklyn Bridge Plaza (também conhecido como Edifício Verizon), um prédio de escritórios e centro de dados de 32 andares no sul de Manhattan.
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ClimaInfo, 24 de setembro de 2024.
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