
Segundo pesquisadores, as perdas humanas decorrentes de furacões como o Helene não se limitam às mortes imediatas, mas podem seguir ocorrendo por até 15 anos.
Os impactos de eventos extremos como tempestades tropicais e furacões vão muito além das perdas humanas e materiais imediatas. Um novo estudo publicado nesta semana na revista Nature indica que esses eventos podem ter efeitos de longo prazo tão devastadores quanto os de curto prazo, contribuindo para milhares de mortes até 15 anos depois de sua ocorrência.
De acordo com a análise, cada ciclone tropical que atinge os EUA causa uma média de 7-11 mil mortes adicionais ao longo do tempo, de tal forma que esses eventos acabam sendo mais fatais do que acidentes automobilísticos, doenças infecciosas e guerras entre a população norte-americana.
O número surpreendeu os próprios autores, que passaram anos checando essa equação para ter certeza de seu valor. Considerando os 501 eventos climáticos observados pelo estudo, ocorridos entre 1930 e 2015, esse montante representa até 5% de todas as mortes da costa leste dos EUA nesse período.
Os autores chegaram a esse número analisando dados de óbitos nos estados com incidência de ciclones, obtidos através do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), e a ocorrência de tempestades tropicais e furacões. Assim, eles conseguiram calcular normas “pré-tempestade” e rastrear os totais de mortes quando um furacão ocorreu.
Diferentemente do que se imaginava – que as mortes se concentravam em um único pico, imediatamente após o evento – o estudo revelou que os furacões causam um “gotejamento persistente” de mortes por anos a fio. Alguns grupos sociais são mais vulneráveis e concentram a maior parte dessas mortes bem depois do evento, como crianças e população negra.
O estudo não oferece uma resposta definitiva sobre os motivos para essa persistência de óbitos anos depois do evento. Entre os fatores sugeridos, estão as consequências das perdas econômicas e de empregos resultantes das tempestades, o estresse orçamentário dos governos afetados e a liberação de toxinas ambientais em áreas industriais.
“Temos essa visão das tempestades como algo que enfrentamos e depois nos livramos, mas o que não percebemos completamente é que, uma vez que ela passa, os impactos reverberam pelas comunidades por muitos anos. Elas precisam de serviços, ajuda e suporte que não estão recebendo atualmente”, argumentou Solomon Hsiang, pesquisador da Universidade de Stanford e coautor do estudo, ao Guardian.
O estudo foi divulgado em um momento pertinente, já que muitas comunidades ainda sofrem com os efeitos do furacão Helene no sudeste dos EUA. Até a tarde desta 4a feira (2/10), 175 mortes tinham sido confirmadas pelas autoridades nos estados da Flórida, Georgia , Carolinas do Norte e do Sul, Tennessee e Virgínia, de acordo com a BBC.
O presidente Joe Biden determinou o envio de cerca de mil soldados para ajudar nos esforços de resgate e salvamento. Eles se somam aos 6 mil integrantes da Guarda Nacional e 4,8 mil agentes de outros órgãos federais que estão atuando nas áreas mais afetadas.
Associated Press, National Geographic, NY Times e Washington Post, entre outros, também repercutiram o estudo.
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ClimaInfo, 3 de outubro de 2024.
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