Seca extrema: Rio Negro atinge seu menor nível em 122 anos

Seca extrema Rio Negro menor nível em 122 anos
Agência Brasil/Rafa Neddermeyer

Um ano depois, um dos principais rios da bacia amazônica bate baixa recorde registrada no ano passado e afeta deslocamento de mais de 120.000 eleitores.

Confirmando as previsões científicas, a seca na Amazônia neste ano está superando os números dramáticos da estiagem histórica registrada na região em 2023. Um símbolo da gravidade da situação é o rio Negro, que é um dos principais cursos d’água da bacia amazônica.

Na 6ª feira (4/10), a cota do Negro no Porto de Manaus baixou para 12,66 metros, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB) – o menor nível em 122 anos de medições, informam Poder 360, Veja e Terra. Em outubro do ano passado, quando bateu o recorde histórico pela primeira vez, o rio registrou cota mínima de 12,70 metros. Na 5ª feira (3/10) o Negro já tinha superado esse nível, baixando para 12,68 metros.

No domingo (6/10), dia das eleições municipais, a baixa histórica do Negro gerou mais um drama na estiagem extrema. Segundo O Globo, cerca de 120 mil eleitores do Amazonas poderiam ser impactados pelo nível do rio, já que a navegação fluvial é o principal meio de transporte de muitas comunidades.

Por isso, 78 locais de votação precisaram de helicópteros para levar urnas a áreas onde populações isoladas poderiam chegar. Esses locais de votação atendem, no total, 27.777 eleitores em 136 seções, nas quais estão incluídas 30 áreas indígenas com 55 seções eleitorais, totalizando 12.890 eleitores.

O rio Negro está baixando em média 19 centímetros por dia. A seca deste ano está mais severa e isso se reflete na antecipação da estiagem, que costuma acontecer em outubro. Em 2023, a falta de chuvas foi histórica, mas, em 30 de setembro do ano passado, o Negro estava com uma cota de 15,66 m, enquanto a mínima de 12,7 m foi alcançada apenas no dia 27 de outubro – ou seja, quase um mês depois do que está sendo visto neste momento.

A seca extrema mudou o cenário e a rotina na orla do Educandos, área portuária na Zona Sul de Manaus. Raimundo Filho, de 65 anos, é chefe de máquinas de embarcações e um dos afetados pelo baixo nível do Negro, informa o g1. Precisou atracar seu barco em terra firme há mais de 2 meses. E sem água para as atividades diárias, perfurou um poço artesiano improvisado onde antes havia as águas do rio. O recurso tem ajudado ele e outros trabalhadores a se manter no local em meio aos desafios causados pela seca.

Outro recorde do ano passado já batido neste ano no Amazonas é o número de atingidos pela estiagem extrema. Segundo um boletim da Defesa Civil estadual divulgado na sexta-feira, a seca já afetava 767.186 pessoas. São cerca de 190 mil famílias que estão enfrentando as consequências da estiagem severa, destaca o g1.

CNN, Brasil 247, O Globo, Jornal Nacional, TV Cultura e Band também repercutiram a baixa histórica do rio Negro.

Em tempo 1: Eleitores do município de Coari, banhado pelo rio Solimões, a 363 km de Manaus, aguardavam embaixo de parte da estrutura do porto fluvial do município para chegarem aos locais de votação ontem. O registro foi feito pela Revista Cenarium. Os eleitores aguardavam o transporte gratuito, cedido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), para se locomoverem a comunidades localizadas a até 45 minutos de distância da cidade-sede. Com o baixo nível do Solimões, o porto fluvial de Coari foi interditado em 25 de setembro. A estrutura, que antes ficava sobre a água, agora está em terra devido à seca do rio. Casas flutuantes também estão encalhadas.

Em tempo 2: A seca na região sul da Amazônia também atingiu níveis críticos e prejudica comunidades ribeirinhas situadas na região das bacias do Tapajós e do Madeira, destaca a Globo Rural. Segundo o coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino, a situação é “dramática”. Ele compara o cenário atual com as enchentes no Rio Grande do Sul em termos de calamidade pública, porém sem a mesma mobilização social em apoio a quem está sofrendo com a estiagem extrema. “As regiões mais afetadas já têm comunidades isoladas em que não se chega nem de barco e nem de canoa. O transporte escolar foi comprometido, [bem como] a remoção de pacientes, médicos, o abastecimento de água e a própria segurança alimentar”, destacou Scannavino.

 

 

 

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ClimaInfo, 7 de outubro de 2024.

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