Como plásticos e microplásticos afetam nossa saúde? 

tratado plásticos
OpenAI

Dados científicos comprovam necessidade do texto final do Tratado Global Sobre Plásticos abarcar hiperprodução e toxicidades de químicos; Brasil tem papel de destaque na negociação.

Uma vasta literatura de estudos científicos deixa clara o impacto da poluição plástica: desde dados que comprovam que comemos, por semana, o equivalente a um cartão de crédito de plástico, a dados que mostram que, mesmo na vida uterina, o feto já entra em contato com microplásticos através da placenta. Ou seja, antes mesmo de nascer, hoje, o ser humano já está em contato com o plástico. 

Esse contato tão intenso e intrínseco com o plástico gera alterações na saúde humana, como alterações hormonais, câncer, problemas cardíacos e infertilidade. Mas como acontece esse contato com a poluição plástica? 

Microplásticos são fragmentos de plástico com menos de 5 milímetros de diâmetro, que podem ser inalados, bebidos – tanto na água de torneira quanto a engarrafada – e até mesmo chegar por transfusão sanguínea. Em maio de 2022, pesquisadores da Universidade Vrije, em Amsterdã, nos Países Baixos, revelaram que 77% dos doadores de sangue do país carregavam grande número de partículas plásticas no sangue.

Segundo artigo publicado na Nature Medicine, os plásticos são compostos de uma espinha dorsal de polímero combinada com aditivos químicos, como plastificantes, retardantes de chama, estabilizadores e corantes, bem como uma gama complexa e mal compreendida de substâncias não intencionalmente adicionadas.

A maioria desses produtos químicos não está ligada covalentemente à matriz polimérica e, portanto, pode se desprender dos plásticos, inclusive durante o uso pretendido do produto e dos microplásticos e nanoplásticos (MNPs). Um relatório recente revelou a existência de mais de 16 mil produtos químicos associados ao plástico, dos quais 6.300 têm alto potencial de exposição, incluindo mais de 1.500 que são conhecidos por se desprender dos plásticos. 

Exemplos conhecidos são os ftalatos e o bisfenol: dois disruptores endócrinos e estão associados a múltiplos impactos na saúde nos níveis atuais de exposição da população geral, incluindo diabetes tipo 2 em adultos e alterações no desenvolvimento de recém-nascidos.

Ftalatos são utilizados para a flexibilidade do produto e fenóis para dar forma e resistência ao plástico. Eles são encontrados em cosméticos, embalagens plásticas de alimentos, jogos infantis e até purificadores de ar. Uma única embalagem de alimento plástico pode conter milhares de produtos químicos, e esse coquetel ativa receptores celulares associados à disfunção endócrina e metabólica.

O que cabe ao Brasil e países no tratado global

Um dado impressionante levantado por cientistas é a subnotificação de dados sobre a exposição e riscos à saúde da poluição plástica. Ainda há um entendimento limitado sobre a toxicidade das misturas destes químicos associados ao plástico e, principalmente, análises para detectar níveis de micro e nanoplásticos na qual o ser humano se expõe no dia a dia. 

Ou seja, ainda que tenhamos um robusto corpo de artigos que ligam doenças das mais diversas à poluição plástica, a comunidade científica ainda vê isso como a ponta do iceberg. Isso quer dizer que líderes políticos precisam agir e agir rápido. 

No caso do Brasil, a delegação brasileira participante do Tratado Global Sobre os Plásticos é liderada pelo médico, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin; a ministra de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira e a ministra da Saúde, Nísia Trindade. 

Entre os pontos ainda em discussão pelos países nas reuniões prévias à final, onde o documento oficial deve ser formalizado, em Busan, Coréia do Sul, em novembro, está o impasse na aprovação da redução da produção plástica, assim como o fim da produção de plástico de uso único. 

A Nature destaca as recomendações já existentes, dadas por um corpo de especialistas, como a proibição de micro e nanoplástico em produtos de cuidado pessoal e o aumento da produção e uso de materiais plásticos sustentáveis e com menor complexidade química. “O Tratado Global sobre Plásticos, agora em suas fases finais de negociação, é uma oportunidade ideal para um instrumento internacional e juridicamente vinculativo para combater a poluição plástica e mitigar os impactos na saúde humana”, destaca o artigo.

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Por Juliana Aguilera, jornalista no ClimaInfo.

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ClimaInfo, 17 de outubro de 2024.

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