Brasil pode reduzir 80% das emissões da energia mesmo com PIB crescendo

Observatório do Clima mostra que país não precisa recorrer a soluções falsas como captura e armazenamento de carbono nem continuar expandindo produção de combustíveis fósseis.
23 de outubro de 2024
Brasil redução emissões de energia
Tomas Silva/ABr via OC

Defensores da exploração de petróleo “até a última gota” no Brasil costumam afirmar que o país precisa de mais combustíveis fósseis para “gerar riqueza” e crescer economicamente. A história do petróleo no mundo mostra porém que a riqueza gerada pelos hidrocarbonetos se concentra nas mãos de poucos, enquanto a conta dos prejuízos ambientais e climáticos é paga por todos, principalmente pelos mais pobres. Agora, o Observatório do Clima (OC) demonstra que o PIB brasileiro pode crescer sem precisar de mais combustíveis fósseis e suas “externalidades”.

O relatório “Futuro da Energia: Visão do Observatório do Clima para uma Transição Justa no Brasil”, elaborado pelas organizações do Grupo de Trabalho (GT) Clima e Energia do OC – entre elas o ClimaInfo – mostra que o Brasil poderá chegar a 2050 emitindo cerca de 102 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) no setor de energia – cerca de 80% a menos do que seria emitido naquele ano no cenário tendencial. Essa forte redução das emissões pode ocorrer sem a necessidade do país recorrer a soluções falsas ou arriscadas como captura e armazenamento de carbono (CCS) nem de expandir a produção de combustíveis fósseis.

Mas, por outro lado, caso as tendências atuais para o setor de energia se mantenham – mesmo incluindo compromissos positivos relacionados à produção de biocombustíveis e ao aumento de fontes renováveis –, o setor energético brasileiro deverá chegar no meio deste século emitindo 558 milhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono (CO2e), número superior ao pico alcançado em meados da década passada. Em 2022, as emissões do setor ficaram em 490,6 milhões de toneladas de CO2e, segundo dados do SEEG/Observatório do Clima.

O OC propõe diretrizes em áreas como transportes de carga e de passageiros, produção de combustíveis e biocombustíveis, indústria e geração de eletricidade. Também são abordadas questões como as perspectivas para a produção de hidrogênio verde, o fechamento de termelétricas a carvão, o crescimento das fontes eólica e solar e o papel das térmicas a gás fóssil em médio e longo prazos.

Para os cálculos de cenários futuros, o trabalho considerou um crescimento médio do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,1% ao ano até 2050, definindo assim uma medida de impacto sobre a demanda energética e as emissões de gases de efeito estufa de cada atividade do setor de energia, destaca o Um só planeta. O relatório também analisou cenários de crescimento inferior (1,3% ao ano) e superior (2,8% ao ano), informa o R7.

O setor de transporte de cargas, ainda predominantemente rodoviário, deverá ser a principal fonte de emissões de GEE no setor de energia em 2050, respondendo por 38% do total. A redução das emissões desse setor será lenta até 2040, mas a partir daí, a utilização do diesel verde deve acelerar a diminuição. As emissões do transporte de cargas devem cair de 115 milhões de toneladas de CO2e em 2022 para 38 MtCO2e em 2050. Já o transporte de passageiros, que representará 16% das emissões em 2050, terá um potencial maior de redução, relata a Agência Brasil.

“O conjunto de possibilidades para reduzir as emissões são promissoras, com investimento na oferta de transporte público coletivo por ônibus, metrô, VLT e na infraestrutura para o uso das bicicletas em detrimento dos automóveis individuais. Além disso, este cenário projeta uma completa substituição da gasolina por etanol nos veículos flex até 2035, dado o potencial que o país tem de produzir mais do biocombustível acompanhado da gradual eletrificação da frota”, diz o estudo.

O relatório pode ser acessado neste link.

 

  • O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ampliou a capacidade de escoamento de energia renovável do Nordeste para o restante do país, com a entrada em operação de três linhas de transmissão e uma subestação de energia. Os ativos receberam autorização para iniciar operação na semana passada, informam Valor e Estadão. Segundo o ONS, as linhas reduzirão as restrições de geração de eólicas e solares aos níveis verificados antes de um apagão ocorrido em agosto de 2023, situação que estava diminuindo a oferta de energia renovável no país e causando prejuízos para usinas eólicas do Nordeste.

  • Um estudo publicado no Scientific Reports indica que a incidência de energia solar crescerá em todo o Brasil, à exceção da Região Sul, devido às mudanças climáticas. Uma situação que beneficia a geração de eletricidade à base da fonte solar, destaca O Globo. A previsão é de mais calor e menos chuva na maior parte do país. O estudo indica que o aumento do número de dias ensolarados pode reduzir a vulnerabilidade do sistema elétrico causada pela redução do volume de reservatórios e das vazões das hidrelétricas, um outro efeito da crise climática.

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