Em direção contrária às evidências científicas, comentários de Inger Andersen diminuem importância da redução da produção nas negociações para aprovar texto final do tratado internacional.
O debate sobre a poluição por plásticos é, sem dúvida, um dos maiores desafios ambientais do nosso tempo. No entanto, à medida que avançamos nas discussões globais sobre como enfrentar esse problema, surgem divergências que ameaçam comprometer esforços mais ambiciosos.
Em direção contrária às evidências científicas, comentários recentes feitos pela diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Inger Andersen, diminuem a importância da redução da produção nas negociações. Em entrevista à AFP, Andersen descreveu a conversa sobre limites de produção como “não inteligente”. Já em entrevista ao Valor, indicou que “não faz sentido” impor limites à produção de plásticos.
Em resposta, uma carta aberta assinada por mais de 130 organizações acusa Andersen de minimizar o impacto da produção de plásticos, favorecendo assim os interesses da indústria em detrimento da saúde pública e enfraquece as negociações.
As organizações argumentam que declarações como a de Andersen “correm o risco de prejudicar o resultado” das negociações ao restringir o escopo do futuro tratado aos plásticos de uso único e de vida curta [veja mais detalhes abaixo].
Apesar da importância da discussão em torno do gerenciamento de resíduos e da melhoria no design de produtos no debate sobre políticas globais, recentes estudos indicam que a redução da produção é uma condição essencial para acabar com a crise da poluição por plásticos. Se não controlada, até 2050 a produção de plásticos pode consumir um terço do orçamento mundial de emissões de carbono do compromisso de 1,5°C do Acordo de Paris.
Tratado internacional contra poluição por plásticos
Em novembro, os países da ONU se reunirão para a última rodada de negociações do tratado internacional contra a poluição por plásticos em Busan, Coreia do Sul. Essa é uma oportunidade nunca antes vista para efetivamente eliminar a poluição por plásticos desde a raiz do problema, adotando posturas baseadas em ciência e no bem-estar planetário.
A inclusão da produção no futuro tratado sobre plásticos continua sem solução. Alguns países, como Ruanda, Peru, França e os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento do Pacífico (PSIDS), entre outros, defenderam limites para a produção de plástico.
A carta solicita que Inger Andersen:
- Retire suas declarações sugerindo que as conversas sobre limites de produção “não são inteligentes”;
- Mantenha sua função de convocadora imparcial do INC; e
- Alinhe seus futuros comentários com as evidências científicas mais recentes sobre a crise da poluição por plásticos e com os vários órgãos da ONU, incluindo o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, o Programa de Desenvolvimento da ONU, o Relator Especial da ONU sobre tóxicos e Direitos Humanos e o Relator Especial da ONU sobre Direitos Humanos e meio ambiente.
Leia aqui a carta assinada por mais de 130 organizações.
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Por Rafael Eudes, engenheiro químico, representante da Aliança Resíduo Zero Brasil no Tratado Global de Plásticos
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ClimaInfo, 23 de outubro de 2024.
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