Líder quilombola critica acordo sobre a tragédia ambiental de Mariana

Líder quilombola critica acordo sobre a tragédia ambiental de Mariana
Reprodução Instagram/simonemsilva26

“Não é quem está no ar condicionado que tem que decidir a vida dos atingidos”, protesta Simone Silva, da comunidade Gesteira, devastada pelo rompimento da barragem.

Hoje, numa cerimônia com pompa e circunstância, o governo federal deve anunciar o acordo com as mineradoras Samarco, Vale e BHP para o pagamento da indenização relativa à tragédia de Mariana, ocorrida há quase dez anos, em novembro de 2015. Para os atingidos, porém, é mais uma violência que se soma ao rompimento da barragem de Fundão na cidade de Minas Gerais. E com o aval do Planalto.

A proposta de R$170 bilhões para a repactuação do acordo de reparação foi anunciada pela Vale na 6ª feira passada (18/10). Não foi coincidência, mostra a Agência Pública: três dias depois, a Justiça britânica começou a julgar uma ação movida por mais de 620 mil pessoas, incluindo o Povo Indígena Krenak, contra a BHP pela tragédia – Vale e BHP são as controladoras da Samarco, responsável pela barragem. A mineradora anglo-australiana, inclusive, desdenhou do julgamento, dizendo que, se o processo prosseguir no Reino Unido, nenhuma indenização seria paga antes de 2028.

O acordo celebrado pelo governo não foi bem recebido pelos moradores da bacia do Rio Doce. Liderança quilombola de Gesteira, uma das comunidades devastadas pela lama tóxica liberada com o rompimento da barragem, Simone Silva critica o valor médio de R$ 30 mil previsto para as indenizações individuais e diz que a população foi “traída” pelo governo Lula. Uma das principais queixas, assim como do Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), é a falta de participação popular nas negociações, que se iniciaram há dois anos, destacam O Globo e Folha.

Silva usa o termo “reparação fake news” para se referir à proposta, que prevê pagamentos de R$ 100 bilhões, divididos em ações diversas de reparação, como programa de transferência de renda a pescadores e agricultores, indenizações individuais e foco em ações de saúde. O dinheiro se soma ao montante entre R$ 67 bilhões e R$70 bilhões já pagos nos últimos anos ou em curso na região.

“A esperança era o governo federal assumir e garantir nossa presença na mesa de repactuação, mas continuou a portas fechadas. Não aceitamos que pessoas que não vivem no território, que não comem lama todo dia, que não passaram pelo processo da perda de território e de entes queridos, venham a decidir a nossa vida. Não é quem está no ar condicionado que tem que decidir a vida dos atingidos”, desabafa a líder quilombola.

Enquanto isso, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), estado também seriamente atingido pela lama tóxica de Mariana, disse que o acordo demorou muito, mas “tem seus méritos”, informa a Folha. Ele vê uma oportunidade para que se façam investimentos que diminuam o impacto de destruição da bacia do Rio Doce. “Mas prefiro também registrar que esse impacto durará por muitos anos.”

Se Casagrande vê méritos, os pescadores capixabas estão insatisfeitos, mostra o ES360. Pescadores de Itaúnas, no litoral norte do estado, e de outras comunidades afetadas continuam a pressionar por indenizações mais justas e efetivas, enfatizando a necessidade de reconhecimento adequado de suas perdas e um compromisso mais sério por parte do governo e das mineradoras.

Já o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), fez críticas à Vale e disse que espera que a Justiça prenda os responsáveis pela tragédia, relata O Tempo. “Me parece que pagar multa está longe de ser o suficiente para que a Justiça seja feita”, disse.

Valor, O Globo, DW, InfoMoney e Estado de Minas também noticiaram a assinatura do acordo pela tragédia de Mariana.

 

 

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ClimaInfo, 25 de outubro de 2024.

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