
O governo do Azerbaijão, país com pouca inserção internacional, quer aproveitar a realização da próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP29) em sua capital, Baku, para vender uma imagem diferente de si mesmo. Saem os planos para expansão da produção de combustíveis fósseis e a repressão violenta contra opositores e ativistas de Direitos Humanos, entram o “defensor da paz mundial” e “líder climático” – ainda que, para isso, use e abuse de distorções e desinformação.
Um levantamento divulgado pela Global Witness nesta 3ª feira (29/10) detalhou como esse esforço tem acontecido nas redes sociais. Uma rede de 71 contas suspeitas no quasimorto Twitter, vulgo X, tem promovido mensagens oficiais do governo azeri para desviar a atenção de críticas relativas a violações de Direitos Humanos e à expansão dos combustíveis fósseis no país.
Essas contas compartilham características comuns, com o mesmo visual, o uso das mesmas hashtags e o fato de terem sido criadas recentemente (a maior parte, nos últimos seis meses). As postagens também aparentam ser coordenadas, com conteúdos idênticos ou muito parecidos postados em sequência ou ao mesmo tempo.
A estratégia não é nova. No ano passado, os Emirados Árabes também recorreram ao uso das redes sociais de forma coordenada para responder às críticas internacionais à realização da COP28 em Dubai. Além das críticas pelo regime repressor, o país também enfrentou pressão pelo fato de ter indicado o CEO de sua petroleira estatal para a presidência da COP28.
Esse fato reitera um problema constrangedor para o secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC): desde 2022, as COPs climáticas vêm ocorrendo em países autoritários. Naquele ano, o Egito recebeu a COP27; no ano seguinte, os Emirados Árabes realizaram a COP28; e, agora, o Azerbaijão será a sede da COP29. Em todos os casos, a COP está sendo instrumentalizada para esvaziar críticas internacionais a seus anfitriões.
“Depois do Egito e dos Emirados Árabes, o Azerbaijão – onde o autocrático Ilham Aliyev sucedeu seu pai como presidente em 2003 – também parece esperar que sediar o evento possa fazer um greenwashing em sua reputação”, destacou o Financial Times em editorial.
Guardian e Washington Post destacaram a análise da Global Witness.