Negacionismo: diretora da Petrobras chama corais da foz do Amazonas de “fake news”

Sylvia Anjos Petrobras
Tomaz Silva /Agência Brasil

Não parou aí: Sylvia dos Anjos afirmou, de forma enganosa, que principais fatores para aquecimento atual são mudanças na radiação solar e na órbita terrestre.

Que a chegada de Magda Chambriard na Petrobras era uma estratégia para aumentar a pressão pela licença do IBAMA para explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas não há dúvida. Mas não se imaginava que o comando da petroleira seria dado ao negacionismo climático, numa apelação baixa e sem qualquer base técnica. Se bem que, depois do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, duvidar da relação cientificamente comprovada entre a queima de combustíveis fósseis e as mudanças climáticas em plena Cúpula da Amazônia, em agosto do ano passado, nada mais deveria surpreender.

A negacionista da vez foi a diretora de Exploração e Produção [E&P] da estatal, Sylvia dos Anjos. Em aula aberta na COPPE/UFRJ na semana passada, a executiva disse que a presença de corais na foz do Amazonas, ameaçados pela exploração de petróleo e gás na região, é “fake news” científica, informam O Globo e Projeto Colabora.

“Não existe coral na foz do Amazonas. Isso não é verdade. Isso é fake news científica. Existem rochas carbonáticas semelhantes a corais, mas não são corais. São rochas antigas”, disse Sylvia. Vale explicar que a diretora de E&P da Petrobras é graduada e mestre em geologia. Não em biologia marinha.

O Fakebook.eco, iniciativa de combate à desinformação climática liderada pelo Observatório do Clima, mostra que não é verdade que as formações de recifes na foz do Amazonas são apenas rochas antigas. “O ecossistema recifal é formado por rodolitos, bancos de algas carbonáticas existentes em outras regiões do Atlântico Sul, como Abrolhos, e fundamentais como habitat de peixes e outras criaturas”.

Um artigo publicado na revista Nature em 2019 aponta evidências de que o recife está vivo e em crescimento, mostra o Fakebook.eco. Outro estudo publicado na Science em 2016 também concluiu que há seres vivos no recife. Além disso, pesquisadores ressaltam a necessidade de estudos adicionais para entender o crescimento do Grande Recife Amazônico, sua diversidade de habitats e sua biodiversidade, já que apenas cerca de 5% do recife é conhecido.

Mas o negacionismo de Sylvia não parou aí. O Central da COP destaca que a diretora de E&P da Petrobras também minimizou a responsabilidade do Brasil nas emissões de combustíveis fósseis, apesar do país ser atualmente o nono maior produtor de petróleo do mundo. Além disso, apresentou uma explicação incorreta sobre as causas do aquecimento global.

“Nós só damos esse adicional (ao aquecimento do planeta) do ser humano jogando CO2, que são as ações antropogênicas. Mas os grandes dois vetores que importam são: o Sol, que não é constante, a emissão solar varia; e a posição da Terra, que varia”, disse Sylvia. Mais uma bola muito fora.

“É falso. Segundo o IPCC, do 1,07°C de aquecimento global observado, quase todo foi provavelmente causado por atividades humanas; fatores naturais contribuíram com uma faixa que vai de -0,1°C a 0,1°C, e a dinâmica interna do planeta, de -0,2°C a 0,2°C. Aliás, as observações por satélite feitas pela NASA mostram que, nos últimos 40 anos, a radiação solar diminuiu ligeiramente. Quanto às atuais posições orbitais da Terra, sem interferência humana, elas estariam promovendo um resfriamento gradual”, explicou o Fakebook.

E Sylvia foi além quando disse que a queima de fósseis não é lá muito importante para as emissões do país. Se ela fizesse as contas, verificaria que se estas representassem um país, este seria o 25o maior poluidor climático, quase empatando com UK e Nigéria.

 

ClimaInfo, 30 de outubro de 2024.

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