Brasil deve pensar na demanda global, diz Silveira ao defender petróleo na foz do Amazonas

Brasil deve pensar na demanda global, diz Silveira ao defender petróleo na foz do Amazonas
Landsat / Copernicus

Ministro reforçou seu apreço pela exploração de combustíveis fósseis na região após Rodrigo Agostinho, do IBAMA, defender o papel do órgão no processo de licenciamento.

Não é novidade que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, é defensor ferrenho da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota”, inclusive em regiões de altíssima sensibilidade ambiental como a foz do Amazonas. A crise climática, causada principalmente pela queima de combustíveis fósseis, que espere.

Dias depois de um parecer técnico do IBAMA ter negado novamente a licença para a Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz, Silveira voltou a atacar. Em um debate promovido pela CNN com a participação do presidente do órgão ambiental, Rodrigo Agostinho, o ministro disse que a Petrobras deve pensar na demanda global pelo combustível fóssil e não apenas na do Brasil, informam Folha, Valor e Poder 360.

Silveira mostra que levou mesmo a sério o ingresso do Brasil na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Uma organização cada vez mais anacrônica, com a distribuição da produção de petróleo e gás fóssil em um número cada vez maior de países.

“Petróleo não é uma questão de oferta. É uma questão de demanda global. Enquanto houver demanda global, a Petrobras, nem as petroleiras que exploram a costa brasileira, não é uma empresa que fornece combustível, fornece petróleo para refino, para segurança energética apenas do Brasil. É uma empresa global.”

A fala de Silveira a favor da extração de petróleo na foz do Amazonas veio logo após Agostinho defender o papel do IBAMA no processo de licenciamento. E repetir o que ele e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já disseram exaustivamente: ao órgão ambiental cabe verificar o cumprimento da legislação ambiental, e não determinar a política energética brasileira.

“Neste semestre, o IBAMA emitiu 50 licenças e autorizações para a Petrobras, o que significa que o IBAMA não parou de licenciar a atividade de petróleo e gás, porque é uma atividade importante para o país. No caso da exploração do petróleo na foz do rio Amazonas, que é uma bacia gigantesca, o que a gente está analisando é a proposta que foi feita pela Petrobras específica naquele local. Não queremos, e não é papel do IBAMA, fazer o convencimento de ninguém; nem do governador, nem do governo, de que a transição (energética) é necessária”, acrescentou.

Além de Silveira e Agostinho, estavam presentes no debate os governadores do Pará, Helder Barbalho, e do Amapá, Clécio Luís, dois estados que seriam impactados com a extração de petróleo na região. Barbalho evitou tocar no tema, mas Luís defendeu que a extração de petróleo na foz do Amazonas levaria recursos e desenvolvimento econômico para seu estado.

Vale lembrar que Luís integrou a comitiva de políticos do Amapá, formada também pelos senadores Davi Alcolumbre (União Brasil) e Randolfe Rodrigues (PT), que se reuniu com a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, na semana passada. Na ocasião, atacaram o IBAMA e reforçaram a pressão política sobre o órgão para liberar a exploração de combustíveis fósseis no litoral amapaense, lembra ((o))eco.

Em tempo: A culpa é do consumidor. Assim pode ser resumido o novo relatório da petroleira Total Energies sobre perspectivas energéticas. Nos dois cenários mais prováveis de transição energética traçados pela petrolífera, a demanda por petróleo vai atingir seu pico depois de 2030, contrariando projeções da Agência Internacional de Energia (IEA) e nenhum deles limitará o aquecimento global a 2°C, o teto máximo estabelecido no Acordo de Paris, informa o UOL. Isso se deve principalmente ao crescimento populacional, aos investimentos lentos na rede elétrica e às vendas de veículos elétricos em todo o mundo mais lentas do que o esperado, segundo o diretor de Sustentabilidade e Estratégia da Total, Aurelien Hamelle. Ou seja, vamos morrer de calor, em inundações por causa de chuvas extremas ou sem água, mas a Total vai garantir o petróleo para “tirar o Sul global da pobreza energética”, como sugeriu Hamelle. Assim como a Petrobras, segundo Alexandre Silveira.

 

 

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ClimaInfo, 6 de novembro de 2024.

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