
A contribuição da aviação comercial para as mudanças climáticas está crescendo, mas o impacto dos voos privados ainda não é bem quantificado. Mas agora um estudo publicado na Communications Earth & Environment mostra que, com a disparada de voos de jatos particulares, as emissões de gases de efeito estufa associadas aumentaram 50% entre 2019 e 2023.
A aviação privada gerou pelo menos 15,6 milhões de toneladas de CO2 em emissões diretas em 2023 – cerca de 3,6 toneladas de CO2 por voo. O segmento está concentrado nos Estados Unidos, onde estão registradas 68,7% das aeronaves.
A pesquisa rastreou mais de 25.000 jatos particulares e quase 19 milhões de voos entre 2019 e 2023. E constatou que quase metade dos jatos percorreu menos de 500 km, e 900.000 foram usados “como táxis” para viagens de menos de 50 km. Muitos desses voos foram para viagens de lazer, além de eventos culturais e políticos. A Copa do Mundo no Catar, em 2022, por exemplo, atraiu mais de 1.800 voos privados, detalha o Guardian.
Voos privados, usados por apenas 0,003% da população mundial – cerca de 255.000 pessoas, considerando uma população mundial de 8,5 bilhões –, são a forma de transporte mais poluente. Os pesquisadores descobriram que passageiros em jatos particulares maiores causaram mais emissões de CO2 em uma hora do que uma pessoa comum emite em um ano.
“A aviação privada tem emissões muito menores no total do que a aviação comercial. No entanto, as emissões por passageiro são muito maiores, e as emissões da aviação privada estão crescendo mais rápido do que as emissões da aviação comercial”, explicou à National Geographic Lynnette Dray, cientista climática da University College London não envolvida no estudo.
Muitos dos jatos particulares mais usados são de celebridades muito ricas, que têm enfrentado críticas crescentes pelo uso dessas aeronaves. A lista é formada por nomes como Elon Musk da Tesla e X, Eric Schmidt ex-CEO do Google, o astro pop Jay-Z, a cantora Taylor Swift e a estrela das redes sociais Kim Kardashian.
As altas emissões pessoais dos bilionários correm o risco de corroer o apetite público por cortar suas próprias emissões, disse ao New Scientist um dos autores do estudo, Stefan Gössling, da Universidade Linnaeus, na Suécia. “Se os muito ricos não tiverem que reduzir suas emissões… então não temos nenhuma razão para que ninguém mais reduza suas emissões, porque todo mundo está emitindo menos.”
Gössling gostaria de ver um imposto de carbono aplicado ao uso de jatos particulares. “Podemos colocar um preço em cada tonelada (de carbono) que é emitida, e acho que todos concordarão que é justo que os ricos paguem o custo dos danos que estão causando”, disse.
Nós concordamos. Difícil é convencer o Congresso brasileiro, que derrubou a proposta de taxação a milionários, e as nações mais ricas do G20 a encampar não apenas essa como outras cobranças extras de quem mais contribui para a crise climática.