Retorno de Trump à Casa Branca dificultará ainda mais limite de aquecimento de 1,5°C

A vitória do candidato republicano à presidência dos EUA coloca em xeque o legado climático de Joe Biden e complica o tabuleiro das negociações internacionais. 
7 de novembro de 2024
Trump reeleito
Ilustração Maura Losch/Axios

Não temos como florear a situação. Pela 2ª vez em oito anos, os Estados Unidos escolheram o negacionista climático Donald Trump para o comando de seu governo. Não há “meio-termo”, nem “copo meio cheio”, nem “lado bom” dessa história: a volta do ex-presidente à Casa Branca, legitimado por uma vitória bem mais folgada nas urnas do que em 2016, é uma péssima notícia para o futuro da luta contra as mudanças climáticas em todo o mundo.

A frustração global com o resultado da votação nos EUA foi bastante visível nesta 4ª feira (6/11). Ativistas, cientistas e lideranças políticas lamentaram a decisão do eleitorado norte-americano e anteciparam aquilo que Trump prometeu repetidas vezes durante a campanha: os EUA devem, mais uma vez, dar as costas para a crise climática – criada, aliás, em grande parte pela pujança da economia do país a partir de meados do século XIX.

“A eleição de um negador do clima para a presidência dos EUA é extremamente perigosa para o mundo”, afirmou o cientista Bill Hare, da Climate Analytics, ao Guardian. Para ele, a volta de Trump provavelmente prejudicará os esforços para limitar o aumento da temperatura média do planeta em 1,5°C neste século, como previsto pelo Acordo de Paris.

“Donald Trump foi um desastre para o progresso climático durante seu primeiro mandato, e tudo o que ele disse desde então sugere que está ansioso para causar ainda mais danos desta vez”, observou Ben Jealous, diretor-executivo da organização ambientalista Sierra Club, ao Grist.

Em sua primeira passagem pela Casa Branca (2017-2021), Trump retirou os EUA do Acordo de Paris e abandonou as políticas de controle de poluição herdadas do antecessor, o ex-presidente Barack Obama (2009-2017). A gestão Trump também impulsionou a produção de combustíveis fósseis em terras públicas federais e offshore. Repetidas vezes, ele classificou a crise climática como uma “farsa” e, durante a campanha deste ano, minimizou os impactos do aquecimento do planeta, como a intensificação de tempestades e furacões.

Agora, reeleito, Trump promete dobrar a aposta na negação climática. Como o NY Times destacou, o agora presidente reeleito afirmou que desmontará as políticas criadas pelo sucessor, Joe Biden, como os incentivos para a expansão de fontes renováveis de energia e para a compra de carros elétricos.

Trump também prometeu retirar os EUA não somente do Acordo de Paris, mas também da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas, o que significaria a saída completa da diplomacia norte-americana das negociações multilaterais sobre o clima. A sombra dele já “encobre” a COP29, cujas negociações começarão na próxima 2a feira (11), agora com perspectivas ainda mais diminutas de sucesso nas discussões sobre financiamento climático.

O regime multilateral sobre clima, aliás, já passou por essa experiência em 2016. A saída dos EUA representa um baque, mas negociadores e observadores entendem que o sistema é mais resiliente hoje do que no passado, logo após a assinatura do Acordo de Paris.

“[A vitória de Trump] é um retrocesso para a ação climática global, mas o Acordo de Paris provou ser mais resiliente e é mais forte do que as políticas de qualquer país”, destacou Laurence Tubiana, ex-negociadora-chefe da França na COP21, em 2015, e uma das arquitetas políticas do Acordo de Paris. “Há um poderoso ímpeto econômico por trás da transição [energética] global, que os EUA lideraram e agora correm o risco de perder”.

No mesmo tom, a ex-secretária-executiva da UNFCCC, Christiana Figueres, disse que a ausência dos EUA do quadro climático global é um “grande golpe”, mas que “não pode e não irá travar as mudanças em curso para descarbonizar a economia” global. “Ficar com petróleo e gás é o mesmo que ficar para trás em um mundo em rápida evolução”.

De toda forma, a COP29 servirá como um termômetro para vislumbrar se e como o mundo poderá seguir no esforço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa sem a participação de seu país mais rico. Mas, diferentemente da Conferência de Marrakech de 2016 (COP22), a agenda de Baku é muito mais pesada e complexa do que há oito anos, com a questão do financiamento climático sem uma solução à vista.

Ao fim, só há motivos para lamentar. O eleitorado norte-americano caiu nas armadilhas da desinformação e confiou seu destino a uma pessoa que não tem qualquer preocupação com o futuro. O mundo sofrerá com as consequências desta decisão, o que é injusto, mas a população dos EUA não escapará do clima cada vez mais extremo e destrutivo que ela ajudará a piorar.

Os efeitos da reeleição de Trump nos EUA para o clima global foram amplamente abordados na imprensa, com destaques em veículos como Axios, Bloomberg, Climate Home, CNBC, Euronews, Financial Times, POLITICO, Reuters, Scientific American e Washington Post.

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