Relatório aponta tendência crescente nos custos dos eventos extremos entre 2014 e 2023, com pico em 2017, com temporada de furacões na América do Norte.
Deveria ser óbvio que o financiamento climático “não é caridade”, mas uma necessidade, como destacou Simon Stiel, secretário-executivo da UNFCCC, em seu discurso na abertura da COP29. E um novo relatório encomendado pela International Chamber of Commerce (ICC) e divulgado na 2ª feira (11/11) reforça a urgência de ampliar as cifras aplicadas pelos países ricos em transição energética, adaptação e mitigação em nações em desenvolvimento.
O documento mostra que eventos climáticos extremos custaram ao mundo US$ 2 trilhões nos últimos 10 anos, informam Guardian e Axios. A análise de 4.000 eventos extremos – de enchentes repentinas que destroem casas a secas prolongadas que arruinam fazendas ao longo de anos – revelou que os danos econômicos somaram US$ 451 bilhões apenas nos últimos dois anos.
O relatório identificou uma tendência crescente nos custos dos eventos climáticos extremos entre 2014 e 2023, com um pico em 2017, quando uma temporada ativa de furacões atingiu a América do Norte. Os Estados Unidos sofreram as maiores perdas econômicas nesses 10 anos, com US$ 935 bilhões, seguidos por China (US$ 268 bilhões) e Índia (US$ 112 bilhões). Alemanha, Austrália, França e Brasil também estão entre os 10 países mais afetados.
“Os dados da última década mostram definitivamente que as mudanças climáticas não são um problema do futuro,” disse John Denton, secretário-geral da ICC. “As perdas significativas de produtividade causadas por eventos climáticos extremos estão sendo sentidas agora pela economia real”, completou. Estão ouvindo, negociadores da COP29?
Economista de desastres da Victoria University de Wellington, na Nova Zelândia, Ilan Noy não participou do estudo da ICC, mas afirmou que os números estão alinhados com pesquisas anteriores feitas por ele. No entanto, alertou que os dados não captam o quadro completo. “A principal ressalva é que deixam de fora o impacto onde ele realmente importa, em comunidades pobres e países vulneráveis.”
Um estudo coescrito por Noy no ano passado estimou os custos do clima extremo atribuíveis à crise climática em US$ 143 bilhões anuais, em grande parte devido à perda de vidas humanas. Entretanto, o levantamento foi limitado por lacunas de dados, especialmente na África.
Ou seja, as perdas com o clima devem ser muito maiores do que se supõe. E não ampliar já o financiamento climático só vai fazer esses custos aumentarem. O momento é decisivo para fechar essa equação.
Em tempo: Mais um exemplo de que as mudanças climáticas são uma realidade cada vez mais letal e cara: o norte das Filipinas está sendo atingido pelo quarto tufão em três semanas. Toraji, também conhecido como Nika, está passando sobre a ilha de Luzon, com ventos equivalentes a um furacão de categoria 1, informam Guardian, Bloomberg, Newsweek e Le Monde. A expectativa é que o tufão traga mais de 200 milímetros de chuva em algumas regiões de Luzon. Toraji segue os tufões Trami, Kong-rey e Yinxing, que juntos mataram 159 pessoas e deixaram mais de 700.000 desabrigados. Os esforços de recuperação estão sendo frustrados pelos eventos extremos em sequência.
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ClimaInfo, 11 de novembro de 2024.
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