Ditador do Azerbaijão chama petróleo e gás de “presentes de Deus”

O anfitrião da COP29 ignora alertas da ciência, critica “hipocrisia” do Ocidente sobre combustíveis fósseis e defende expansão da produção de energia suja no Azerbaijão.
12 de novembro de 2024
COP29 petróleo presente de Deus
Montagem ClimaInfo sobre imagens Unsplash/Freepik

Por um breve momento, dava para imaginar que o evento que acontecia em Baku nesta 3a feira (12/11) era algum congresso da indústria de combustíveis fósseis, e não uma Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. O momento surreal foi uma cortesia do anfitrião da COP29, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que aproveitou a ocasião de (rara) atenção internacional sobre o país para defender o setor de petróleo e gás e seus planos de expansão da produção de energia fóssil.

Em uma fala desconectada da realidade e do contexto da COP29, Aliyev disparou argumentos dos mais absurdos para defender os combustíveis fósseis. Para ele, as grandes reservas de petróleo e gás do país do Cáucaso seriam um “presente de Deus” para a população azeri. “Os países não devem ser culpados por tê-los e não devem ser culpados por trazer esses recursos ao mercado porque o mercado precisa deles. O povo precisa deles”, disse.

Aliyev também manifestou sua contrariedade com a imprensa internacional, particularmente nos países ocidentais, que destacaram o peso e a influência da indústria de combustíveis fósseis no Azerbaijão. Em uma fala que ecoa a retórica de lideranças pouco afeitas à questão climática, como o presidente da Rússia Vladimir Putin e o presidente reeleito dos EUA, Donald Trump, o líder azeri usou uma narrativa conspiracionista para defender seu regime.

“Infelizmente, padrões duplos, o hábito de dar lições a outros países e a hipocrisia política se tornaram uma espécie de modus operandi para alguns políticos, ONGs controladas pelo Estado e mídia de notícias falsas em alguns países ocidentais”, afirmou Aliyev.

O tom e o conteúdo do discurso do presidente azeri dizem mais respeito à dinâmica política doméstica do que ao contexto externo. A realização da COP29 faz parte de uma estratégia de reforço da posição de Aliyev, no poder há mais de duas décadas. Nos últimos meses, o regime intensificou suas ações de repressão a opositores políticos, jornalistas e ativistas de Direitos Humanos, com prisões em massa.

A Agência Pública conversou com a pesquisadora Nargiz Mukhtarova, cujo marido, o economista Farid Mehralizada, foi preso há cerca de seis meses depois de fazer uma análise crítica sobre a dependência do Azerbaijão da indústria de combustíveis fósseis. Para ela, a prisão é fruto da intransigência crescente da ditadura de Aliyev com dissidentes: “Eu acredito que a detenção dele foi motivada por vários fatores, um deles é a crítica pública que ele fazia sobre as políticas econômicas do Azerbaijão. Ele sempre alertou que a forte dependência de combustíveis fósseis representa sérios riscos para as pessoas e para o meio ambiente.”

Al-Jazeera, BBC, Estadão, Folha, Independent, POLITICO e RFI, entre outros, repercutiram o discurso de Aliyev na COP29. Já a Associated Press abordou a intensificação da repressão política no Azerbaijão.

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