Negacionista Milei ordena saída de negociadores da Argentina da COP29

Na véspera de encontro com Trump, Javier Milei ordenou a saída da delegação argentina da COP29 em Baku, aumentando temores de retrocessos com governos negacionistas.
13 de novembro de 2024
Rússia petroleiros fantasmas
Jens Rademacher/Unsplash

Uma notícia surpreendeu negociadores e observadores da COP29 em Baku nesta 4a feira (13/11): de forma repentina, a delegação da Argentina que participava das negociações climáticas deixou o Azerbaijão por ordem do presidente Javier Milei.

A Casa Rosada não justificou a medida, mas o histórico negacionista do atual mandatário argentino e sua proximidade com o presidente reeleito dos EUA, Donald Trump, levantaram temores quanto a um esvaziamento potencial do Acordo de Paris por parte de governos de extrema-direita.

Ao Guardian, a subsecretária de meio ambiente da Argentina, Ana Lamas, que chefiava a delegação do país em Baku, afirmou que o Ministério das Relações Exteriores instruiu os negociadores a deixar a COP29, sem detalhes sobre justificativas. “É verdade. É tudo o que posso dizer agora”, disse.

Esta era a primeira participação efetiva do governo argentino sob Milei em uma COP climática; no ano passado, a troca de governo ocorreu durante a COP28 de Dubai e os representantes do novo presidente participaram apenas da parte final do encontro.

A decisão joga mais incerteza sobre os efeitos da vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA sobre a diplomacia climática global. Com a saída esperada de Washington do Acordo de Paris, uma das preocupações de especialistas e observadores é que outros governos dominados pelo negacionismo climático possam fazer o mesmo movimento, como a Argentina.

O Valor destacou uma declaração do novo ministro do exterior argentino, Gerardo Werthein, na qual afirmou que o país rejeitaria “imposições” de organismos multilaterais e que “desafiará qualquer tentativa de impor obrigações que ameacem as necessidades de desenvolvimento econômico”.

O histórico de Milei não é positivo. Antes de se eleger presidente, ele seguiu o roteiro da extrema-direita negacionista, alegando que a crise climática seria “outra das mentiras do socialismo”. No entanto, até agora, o líder argentino vem mantendo um silêncio curioso sobre o assunto, com manifestações mínimas.

Essa postura pode mudar agora. A volta de Trump, com quem se encontrará nos EUA nos próximos dias, Milei pode ser tentado a repetir o gesto de seu “ídolo” e tirar a Argentina do Acordo de Paris. Essa possibilidade assusta ativistas climáticos e especialistas do país, que temem novos retrocessos.

“Esta decisão é puramente ideológica e vai contra os melhores interesses do país, cuja economia foi severamente impactada pela crise climática. Como em outros casos, este é mais um sinal de uma política desequilibrada de extrema-direita que usa momentos de grande repercussão como um show burlesco para o prazer do movimento global da extrema-direita”, explicou Oscar Soria, diretor argentino do think tank Common Initiative.

A saída da Argentina da COP29 teve grande repercussão na imprensa, com matérias em Clarín, EFE, Exame, Folha, Infobae, La Nación e O Globo.

  • Em tempo: Os Estados Unidos devem formalizar uma nova NDC para o Acordo de Paris, mesmo com a perspectiva de uma saída total do país com a volta de Donald Trump à Casa Branca. Segundo o site POLITICO, o governo de Joe Biden deve submeter um novo compromisso climático ainda na COP29 de Baku, com metas climáticas mais ambiciosas. A nova meta, se sair, servirá mais como um sinal da continuidade do engajamento norte-americano com a agenda climática do que como um compromisso efetivo do governo.

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