
“É muita tristeza. Foi um crime, todos tinham que estar na cadeia. Foi um crime premeditado, porque as empresas sabiam que ia romper. Eles mataram 19 pessoas e poderiam ter sido muitas mais. Só não foi pior porque nós mesmos nos salvamos. É o paraíso da impunidade. Como assim eles não são culpados?”
O desabafo de José do Nascimento de Jesus, o “Seu” Zezinho, como é conhecido, foi feito à DW após a juíza federal substituta Patricia Alencar Teixeira de Carvalho, do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), absolver as mineradoras Vale, Samarco e BHP Biliton pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015. A juíza também inocentou na 5ª feira (14/11) funcionários das mineradoras e a VogBR, consultoria que atestou a estabilidade da estrutura, e funcionários das mineradoras também foram inocentados, informam g1, CNN, Carta Capital, UOL e Poder 360.
O rompimento da barragem em Mariana matou 19 pessoas e destruiu a bacia do Rio Doce, sendo considerado o acidente ambiental mais grave do país. Os rejeitos arrasaram fauna e flora, contaminaram a água do rio até sua foz, no Espírito Santo, e também parte do litoral capixaba, afetando a vida de milhares de pessoas. Houve um recente acordo de repactuação mediado pelo governo federal com as mineradoras que foi criticado pelos atingidos. Além disso, há uma ação contra a BHP sendo julgada no Reino Unido.
A denúncia foi feita contra 26 pessoas físicas e jurídicas, a maioria por crime de homicídio. No entanto, a juíza considerou que os documentos, laudos e testemunhas “não responderam quais condutas individuais contribuíram” para a tragédia e que a dúvida “só pode ser resolvida em favor dos réus”. O Ministério Público (MP) informou que recorrerá da decisão.
A sentença foi dada enquanto muitas pessoas que viviam ao longo do Rio Doce ainda buscam serem reconhecidas como vítimas. É o caso de moradores do Quilombo 14, em Naque, a 260 km de Mariana, que relatam dificuldade de acesso à água, empobrecimento e ausência de qualquer reparação.
Geraldo Batista Rodrigues, morador do quilombo, conta que os produtos e alimentos feitos pela comunidade são rejeitados até hoje por consumidores, que têm medo de uma possível contaminação. “A gente está nas conversas, nas reuniões, mas nunca recebemos auxílio”, contou.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) considerou a decisão “equivocada” e salientou que ela acontece num momento “extremamente favorável para as mineradoras”, por causa do acordo de repactuação, informa a Folha.
O Globo, InfoMoney, Terra e Brasil de Fato também repercutiram a absolvição de Vale, Samarco e BHP pelo rompimento da barragem em Mariana.
ClimaInfo, 18 de novembro de 2024.
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