Pelo menos 132 diretores-executivos e funcionários do setor de petróleo e gás fóssil foram “convidados” pelo governo do Azerbaijão e receberam crachás do país anfitrião.
A indústria dos combustíveis fósseis não dá trégua. Além de influenciar e até ocupar governos – vide a indicação de Chris Wright, CEO da Liberty Energy, para a secretaria de energia do governo Trump –, os lobistas do setor vão se tornando cada vez mais numerosos nas conferências do clima. Não seria diferente com a COP29, realizada num país cuja economia gira em torno do petróleo e do gás fóssil.
Um levantamento da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO) publicado na 6ª feira (15/11) revelou a presença de pelo menos 1.773 representantes do lobby fóssil na conferência de Baku. O número supera as delegações dos países mais afetados pela crise do clima, confirmando que a indústria fóssil segue investindo alto para garantir a presença ostensiva de seus representantes nessas negociações, a exemplo do que foi visto no ano passado, em Dubai, e em 2022, no Egito, destaca o Observatório do Clima.
Há mais lobistas fósseis em Baku do que a soma de todos os delegados dos dez países mais afetados pela crise do clima. Chade, Ilhas Salomão, Níger, Micronésia, Guiné-Bissau, Somália, Tonga, Eritreia, Sudão e Mali têm juntos, 1.033 delegados, contra os 1.773 representantes da indústria fóssil.
No ano passado, em Dubai, foram credenciados 2.456 lobistas da indústria de combustíveis fósseis. Mas, apesar do número total deste ano ser menor, a proporção aumentou: a COP28 teve 97.372 pessoas credenciadas, enquanto a COP29 registrou 52.305 pessoas.
Um dos segmentos da indústria fóssil presente na COP29 é o de captura e armazenamento de carbono (CCS). O CCS é uma solução tecnológica cara e cuja viabilidade ainda não foi comprovada, mas que tem sido esgrimida pelas petroleiras como “solução” para manter a exploração dos fósseis.
Segundo o Guardian, pelo menos 480 lobistas do setor de CCS estiveram na conferência do clima. O número é cinco vezes maior do que o de lobistas desse segmento presentes na COP28, e supera as delegações nacionais principais de países poderosos como os EUA e o Canadá. E quase metade desses lobistas obteve acesso como membros de delegações nacionais.
Não para aí. O governo do Azerbaijão ainda estendeu o “tapete vermelho” para alguns dos representantes do setor de petróleo e gás fóssil, relatam Guardian e O Globo. Pelo menos 132 diretores-executivos e funcionários da indústria petrolífera foram “convidados” pelo governo azeri e receberam crachás do país anfitrião.
Enquanto tenta desatar os nós do financiamento climático, a COP29 também tenta reiterar o compromisso assumido na conferência de Dubai em relação à eliminação dos combustíveis fósseis. Mas, diante de tantos lobistas do setor, a confirmação está ameaçada. Segundo a Bloomberg e O Globo, a Arábia Saudita está liderando a resistência, com uma combinação de táticas de adiamento e manobras de bloqueio.
Em tempo 1: Nomes renomados da comunidade climática, como o ex-secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, e a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, escreveram ao secretariado geral da Convenção do Clima pedindo uma reforma das COPs. Entre os pedidos estão a melhoria dos processos de seleção de países que presidem as conferências, excluindo os que não apoiam a eliminação gradual da energia fóssil. Pedem, também, eventos menores e voltados para soluções e que reconheçam a conexão entre pobreza, desigualdade e instabilidade planetária, informam Valor e Sky News.
Em tempo 2: Quatro países – Butão, Suriname, Panamá e Madagascar – lançaram na COP29 uma aliança dos países neutros em emissões de carbono ou até com balanço negativo. Os membros desta coligação, batizada de G-Zero, pedem para obter um status oficial na ONU e recursos para conseguirem se manter nesta privilegiada condição, relata o UOL.
ClimaInfo, 18 de novembro de 2024.
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