
A segunda semana de negociações da Conferência do Clima de Baku (COP29) começou ontem (18/11) em compasso de espera. Enquanto os ministros chegam à capital do Azerbaijão para os últimos dias de discussão, os negociadores aguardavam a sinalização dos chefes de Estado e governo reunidos na cúpula do G20, que acontece no Rio de Janeiro. A sinalização veio na declaração final do encontro.
O próprio presidente da COP29, o ministro azeri Mukhtar Babayev, reconheceu a importância de uma mensagem forte dos líderes do G20 para destravar as discussões sobre financiamento em Baku. “Não podemos ter sucesso sem eles, e o mundo está esperando para ouvi-los. Nós os instamos a usar a cúpula do G20 para enviar um sinal positivo de seu comprometimento em lidar com a crise climática”, comentou, citado pela Reuters.
Entre os negociadores, havia a expectativa de que a declaração final do G20 poderia trazer algum incentivo para as conversas na COP29. De acordo com a Reuters, os negociadores reunidos no Rio de Janeiro concordaram em mencionar as contribuições voluntárias dos países em desenvolvimento para o financiamento climático, sem chamá-las de obrigações.
Como destacou o Climate Home, essa citação poderá desbloquear valores maiores para a Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG), viabilizando doações de economias emergentes (o que é uma demanda dos países desenvolvidos), mas sem caracterizá-las como obrigações (como reivindicam China e outros países).
Enquanto aguardavam pelos sinais vindos do Rio de Janeiro, os negociadores em Baku começaram a semana com mais um puxão de orelha por parte do secretário-executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Simon Stiell. Em discurso, ele reiterou que “financiamento não é caridade” e que os países precisam entrar em um entendimento sobre o futuro das finanças climáticas.
“Não podemos nos dar ao luxo de qualquer surto de ‘você primeiro’, onde grupos de países se entrincheiram e se recusam a avançar em uma questão até que outros se movam para o mesmo lugar. Essa é uma receita que nos levará literalmente a lugar nenhum”, disse Stiell. “Então, vamos deixar de fazer teatro e ir direto ao assunto”. Euronews e Guardian repercutiram a cobrança.
Ainda sobre a questão do financiamento climático, a Bloomberg destacou as pretensões da China de aproveitar as negociações em Baku para aliviar as pressões comerciais da União Europeia. A ideia, segundo interlocutores de Pequim, é ampliar o dinheiro chinês destinado à ação climática nos países em desenvolvimento em troca de um ambiente mais cooperativo com os países europeus no que tange às importações de carros elétricos e equipamentos de energia renovável vindos do país asiático.
Axios, Euronews, Financial Times e POLITICO também abordaram o tabuleiro das negociações sobre financiamento climático na COP29.
Em tempo: Os países terão uma segunda chance para reviver o Programa de Trabalho sobre Mitigação, cuja negociação se encerrou sob colapso no último sábado (16) por conta de desentendimentos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. A presidência da COP29 decidiu retomar as discussões nesta semana e tentará avançar rumo a um entendimento sobre a redução de emissões e o compromisso assumido pelos governos na COP28 de Dubai para “distanciar-se dos combustíveis fósseis”. A expectativa de um acordo, no entanto, segue baixa, visto que muitos países em desenvolvimento argumentam que novas ações de mitigação estão condicionadas a avanços nas negociações sobre financiamento climático. O Climate Home deu mais detalhes.