Greta Thunberg classificou decisão final de Baku como “completo desastre”; já o WWF-Brasil destacou a importância da COP30 para manter viva a meta de 1,5°C.
A solução rocambolesca imposta pela presidência da COP29 para as negociações sobre a nova meta de financiamento climático foi amplamente criticada por observadores da sociedade civil e ativistas em Baku e ao redor do mundo. A avaliação é consensual: o texto representa (mais) um retrocesso, já que relativiza a responsabilidade dos países desenvolvidos em fornecer os recursos financeiros necessários para ação climática nos países mais pobres.
A crítica mais dura partiu da ativista climática Greta Thunberg. “[A decisão da COP29] é um desastre completo. As pessoas no poder estão mais uma vez prestes a concordar com uma sentença de morte para as inúmeras pessoas cujas vidas foram e serão arruinadas pela crise climática. O texto está cheio de falsas soluções e promessas vazias”, disse em uma rede social. Estadão, g1 e Valor repercutiram essa informação.
Organizações da sociedade civil também reforçaram as críticas ao resultado final da COP29 na parte financeira. “O acordo de financiamento fechado em Baku distorce a UNFCCC e subverte qualquer conceito de justiça. Com a ajuda de uma presidência incompetente, os países desenvolvidos conseguiram mais uma vez abandonar suas obrigações e fazer os países em desenvolvimento literalmente pagarem a conta”, avaliou Claudio Angelo, do Observatório do Clima.
Na mesma linha, Tasneem Essop, da Climate Action Network (CAN), acusou os países desenvolvidos de má-fé nas negociações em torno do financiamento climático. “Esta deveria ser a COP das finanças, mas o Norte Global apareceu com um plano para trair o Sul Global. No final, vimos a mesma história se desenrolar, com os países em desenvolvimento ficando com pouca opção a não ser aceitar um acordo ruim”, afirmou.
“[A nova meta] é uma amarga decepção. US$ 300 bilhões [anuais] até 2035 é muito pouco, muito tarde. Os países desenvolvidos chegaram em Baku com os bolsos vazios e vergonhosamente pressionaram os países em desenvolvimento a concordar. Mas essa meta de financiamento não vem com nenhuma garantia de que não será entregue por meio de empréstimos ou financiamento privado, em vez do financiamento público baseado em subsídios os quais os países em desenvolvimento precisam desesperadamente”, afirmou Tracy Carty, do Greenpeace International.
A manobra da presidência da COP29, ocupada pelo Azerbaijão, para aprovar o texto final também foi bastante criticada. “A inépcia da presidência azeri da COP29 em intermediar um acordo nesta COP de financiamento climático cairá na ignomínia”, destacou Rachel Cleetus, da Union of Concerned Scientists (UCS).
A desconfiança entre os países em relação ao próprio sistema multilateral será um desafio a mais para o Brasil na presidência da próxima COP30, que acontecerá daqui a um ano em Belém (PA). Caberá aos negociadores brasileiros restaurar a confiança entre os diferentes grupos de países e no diálogo multilateral.
“Como presidente da próxima COP, é fundamental que o Brasil se coloque como protagonista da viabilidade do 1,5oC [de limite de aquecimento], cobrando o aumento da ambição dos demais países em todas as áreas de negociação e dando o exemplo”, pontuou Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.
ClimaInfo, 25 de novembro de 2024.
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