A cidade de Busan, na Coreia do Sul, sedia nesta semana a última rodada de negociações da ONU em torno de um novo tratado global contra a poluição por plásticos. O problema é que as discussões não estão restritas a negociadores governamentais e à sociedade civil: pelo menos duas centenas de lobistas da indústria petroquímica também estão presentes, fazendo todo o possível para dificultar a negociação do acordo.
Um levantamento do Center for International Environmental Law (CIEL) divulgado nesta 4ª feira (27/11) identificou 220 representantes de empresas de combustíveis fósseis e químicas credenciados para participar da 5ª sessão do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC-5) sobre o tratado global de poluição por plásticos.
Esse número supera o total de lobistas (194) que participaram da última sessão (INC-4), em abril passado em Ottawa, no Canadá. Se fossem uma delegação nacional, a turma do lobby petroquímico seria a maior desta sessão, superando até mesmo os anfitriões sul-coreanos.
Os lobistas da indústria química e de combustíveis fósseis também superam o total de negociadores da União Europeia (191) e dos países da América Latina e Caribe (165), além de representar mais do que o dobro dos 89 representantes dos pequenos estados insulares em desenvolvimento do Pacífico.
“A estratégia deles [lobistas], retirada diretamente do manual de negociações climáticas, é projetada para preservar os interesses financeiros de países e empresas que estão colocando seus lucros com combustíveis fósseis acima da saúde humana, dos Direitos Humanos e do futuro do planeta”, criticou Delphine Levi Alvares, do CIEL.
A presença maciça do lobby petroquímico se reflete na dinâmica das negociações em Busan. Mesmo com o prazo até domingo (1º/12) para fechar o acordo, as discussões não avançaram substancialmente nos últimos dias, prejudicadas pela oposição dos petroestados liderados pela Arábia Saudita, Irã e Rússia.
Como o Climate Home destacou, um dos impasses que travam as negociações é a definição de metas para redução da produção de plástico. Uma grande coalizão de países, que inclui a maior parte dos governos da Europa, América Latina e das pequenas nações insulares do Pacífico, defende que o tratado mencione a imposição de limites à fabricação de plástico. Essa proposta tem sido contestada pelos países produtores de petróleo, que demandam que o texto não crie impeditivos para setores econômicos específicos (leia-se indústria fóssil).
AFP, Euractiv e Guardian repercutiram o levantamento do CIEL sobre o lobby petroquímico nas negociações da INC-5. Já AFP, Inside Climate News e Reuters também abordaram o panorama geral das discussões em Busan.