
A seca histórica no Pantanal fez o bioma se tornar particularmente vulnerável aos incêndios florestais, quase todos eles provocados por ação humana, criminosa ou não. Além disso, a falta de chuvas “secou” a bacia do rio Paraguai, a ponto de fazer esse rio registrar seu menor nível desde 1900.
Dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB) mostram que de 2023 a 2024 a bacia do Paraguai registrou o pior volume de chuva da série histórica, iniciada em 2000. A precipitação média anual foi de 702 milímetros, semelhante à encontrada em regiões de clima semiárido no país (menor que 800 mm), explica a Folha.
Se for considerada apenas a área do Pantanal, o volume de chuva observado no bioma foi de 670 mm. Um volume muito inferior à média de 950 mm esperada para o ano, de acordo com dados do INPE.
Apesar da série histórica da bacia ser relativamente curta, com 25 anos, outros dados confirmam que a seca é sem precedentes, diz Marcus Suassuna, engenheiro hidrólogo do SGB. Um deles é justamente o menor nível desde 1900, atingido em 18 de outubro.
O levantamento sobre a precipitação durante o ciclo de chuvas, que vai de outubro a setembro, apontou para um déficit hídrico de 36% na bacia, uma vez que a média anual esperada é de 1.095 mm. O Pantanal, porém, tem vivido secas severas e prolongadas desde 2019.
Na 5ª feira (12/12), o Rio Paraguai chegou a 74 centímetros de altura, um mês após começar a deixar de registrar marcas negativas, informa o Diário Corumbaense. Segundo o SGB, as chuvas na região do Pantanal contribuem para elevar o nível do rio Paraguai, mas as cotas ainda estão abaixo do considerado normal para o período do ano.
“Considerando os anos mais críticos do histórico, como referência, é provável que [a estação de] Ladário se mantenha abaixo de 100 cm até a segunda quinzena de dezembro”, informou o último boletim do serviço.
Em tempo: A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) encaminhou a modelagem da concessão da hidrovia do rio Paraguai para o Ministério de Portos e Aeroportos na 5ª feira (12/12). O projeto compreende uma extensão de 600 km, desde o trecho entre Corumbá (MS) e a foz do rio Apa, no município de Porto Murtinho (MS), ao leito do canal do Tamengo. Segundo a CNN, estima-se que o transporte de cargas do rio Paraguai suba para 25 milhões e 30 milhões de toneladas a partir de 2030, após a concessão. No ano passado, a hidrovia transportou 8 milhões de toneladas de cargas, um aumento de 73% sobre 2022. Resta saber se as mudanças climáticas vão permitir haver água suficiente no rio para esses planos.