Entre 2020 e 2022, cerca de 2,8 milhões de apólices de seguro residencial foram canceladas na Califórnia, meio milhão apenas no condado de Los Angeles.
Não é de hoje que as seguradoras registram o crescimento de sinistros causados por eventos climáticos extremos em todo o mundo. Por isso o risco climático vem ganhando cada vez mais peso nos cálculos dos prêmios. Em última instância, as empresas de seguro cancelam ou não renovam contratos. Os consumidores que se virem.
A Califórnia, por exemplo, enfrenta uma crise sem precedentes no setor, sobretudo na cobertura contra incêndios florestais. Entre 2020 e 2022, aproximadamente 2,8 milhões de apólices de seguro residencial foram canceladas no estado, dos quais 531 mil apenas no condado de Los Angeles, que vêm sofrendo com chamas incontroláveis nos últimos dias.
É o caso de Lynne Levin-Guzman, relatado por CNN e Época Negócios. Após o cancelamento da apólice de seguro contra incêndio de seus pais de 90 anos, ela se viu no jardim da casa da família tentando proteger a residência com uma mangueira.
“Eu sei que não deveria estar aqui, mas esta é a casa dos meus pais e eles acabaram de ter o seguro contra incêndio cancelado. Eles vivem nesta casa há 75 anos e sempre tiveram o mesmo seguro, e essas seguradoras decidiram cancelar o seguro contra incêndio deles”, contou.
O Departamento de Seguros da Califórnia aponta que a recusa das seguradoras em renovar apólices está relacionada ao aumento dos riscos de incêndios. Como resultado, muitos residentes têm de recorrer ao California FAIR Plan, uma opção criada pelo estado, mas com custos elevados e menos cobertura do que as apólices tradicionais. A tragédia atual é um teste sem precedentes para o California FAIR Plain, destaca a Bloomberg Línea.
Os prejuízos causados pelo fogo “podem levar os mercados de seguros à beira do abismo na Califórnia”, afirmou o pesquisador sênior de clima e energia da Universidade de Stanford e especialista em incêndios florestais, Michael Wara.
E o fogo incontrolável deve virar o “novo anormal” californiano. Analistas de riscomunidos de modelos climáticos vinham observando nos últimos anos que os incêndios florestais agora tinham um potencial semelhante ao de um grande terremoto para desestruturar vidas e desestabilizar o mercado imobiliário residencial de US$ 10 trilhões da Califórnia, explica a Bloomberg.
Um grupo convocado para examinar cenários de pior caso determinou que três áreas específicas no estado eram particularmente vulneráveis e capazes de causar repercussões generalizadas. Uma delas era Pacific Palisades, o bairro de Los Angeles reduzido a cinzas nesta semana.
A tragédia provocada pelas chamas também escancara a injustiça climática. Segundo a Veja, milionários de Los Angeles estavam tentando contratar bombeiros particulares para protegerem suas mansões. Mas a busca também era feita por seguradoras, segundo o relato de um bombeiro local. O objetivo era tentar salvar casas caras para evitar pagamentos de seguros custosos.
Enquanto isso, o contingente de bombeiros na linha de frente de combate ao fogo foi reforçado por cerca de 1.000 detentos. Segundo o Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia, dependendo do serviço desempenhado, os presos ganham entre US$ 5,80 a US$ 10,24 por dia, além da redução da pena.
Os incêndios florestais que consomem Los Angeles e os impactos no mercado segurador da Califórnia também foram noticiados por LA Times, Newsweek, CBS, New York Times, Época Negócios, Guardian, New York Times, BBC, AP e Reuters.
Em tempo: Depois da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio do ano passado, o mercado segurador brasileiro também colocou o risco climático no radar. Segundo o presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), Dyogo Oliveira, os incidentes climáticos mudam as séries históricas, dificultando a precificação. Uma das propostas que têm sido discutidas pelo setor é a criação de um seguro social contra catástrofes. A ideia consiste em uma cobrança adicional na conta de luz de cada unidade residencial, com pagamento de indenização em caso de sinistro, informa a Folha.
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ClimaInfo, 13 de janeiro de 2025.
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