Cientistas, religiosos e ambientalistas se opõem a exploração de petróleo na foz do Amazonas

Documento afirma que estudo do MME “revela as reais ambições do governo” ao prever aumento climaticamente escandaloso de 80% na produção de petróleo até 2029.
21 de fevereiro de 2025
(Divulgação abaixo-assinado: A Margem Equatorial e o suicídio ecológico do Brasil)

“Atropelar o IBAMA, inaugurar termelétricas a gás ‘natural’ fóssil em série ou dizer que mais petróleo pode viabilizar a ‘transição energética’ é inaceitável. E é puro cinismo.”

Esse é um trecho do manifesto assinado por cientistas, religiosos e ambientalistas que critica os planos do governo de explorar petróleo na foz do Amazonas. O documento critica a adesão do Brasil a um fórum da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e rebate críticas do presidente Lula ao órgão ambiental, que vem sendo pressionado para liberar a licença para a Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59, no litoral do Amapá.

O manifesto afirma que um estudo do Ministério de Minas e Energia (MME) “revela as reais ambições do governo” ao prever um aumento de 80% na produção de petróleo do país até 2029. E ressalta: “Mais petróleo, na Amazônia ou alhures, é o caminho mais curto para nosso suicídio ecológico”.

Entre os signatários do abaixo-assinado estão Ricardo Galvão, presidente do CNPq; Liszt Vieira, ex-presidente do Jardim Botânico; e Pedro Ivo Batista, conselheiro do CONAMA e ex-assessor especial de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente (MMA). Também aderiram ao manifesto o climatologista Carlos Nobre e os antropólogos Eduardo Viveiros de Castro e Manuela Carneiro da Cunha.

Também signatária do documento, a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima (OC) e ex-presidente do IBAMA, Suely Araújo, reitera que, ao contrário do que tenta fazer crer o governo, o Brasil não voltará a importar petróleo se não explorar a foz do Amazonas.

“Todos os números mostram que o Brasil tem condições de atender sua demanda interna [por petróleo] sem expansão de novas fronteiras exploratórias. Os brasileiros têm que debater o futuro do petróleo no país em plena crise climática. Tivemos 2024 como o ano mais quente da história, 2025 parece que será pior, e mais de 70% das emissões vêm da queima de combustíveis fósseis”, frisou Suely na TV Gazeta.

A razão pela qual o governo quer explorar mais petróleo mesmo diante da urgência climática é questionada também pelo especialista em transição energética do Greenpeace Brasil, Pablo Nava. Além disso, ao apresentar a exploração na foz como um vetor de desenvolvimento econômico da região, o governo repete o equívoco de associar a mera extração de recursos ao progresso regional, disse ele à Veja.

Especialmente no ano em que o país sedia a COP30, o Brasil deveria adotar uma postura mais proativa na promoção da discussão de como descarbonizar as matrizes energéticas e de como sair do modelo ancorado no petróleo como desenvolvedor da economia. “Temos uma matriz expandida e devemos olhar para outras fontes alternativas ”, reforçou. 

  • Em tempo: O Brasil precisará investir US$ 6 trilhões de agora até 2050 para acelerar a descarbonização em toda a sua economia. Essa é a avaliação mais recente da BloombergNEF, que conclui que, para o país estar no caminho do net zero, as emissões relacionadas à energia no Brasil devem cair 14% até 2030, em comparação com os níveis de 2023, e cair 70% uma década depois. A BNEF aponta que o maior desafio de descarbonização do país será a eletrificação do transporte , que atualmente representa mais da metade das emissões do setor energético do país, destaca a Bloomberg.

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