
O desmatamento e as mudanças no uso da terra, que têm a agropecuária como seu principal vetor, são as maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Há décadas cientistas alertam que o agronegócio sentiria nas safras os efeitos das mudanças climáticas para as quais tanto contribuem com práticas insustentáveis e devastadoras. Esse momento chegou. E quem paga a conta é a população, que sofre com alimentos mais caros.
Com 2024 marcado por um El Niño turbinado pela mudança do clima que levou a vários eventos climáticos extremos de norte a sul do país – inundações, secas severas e sucessivas ondas de calor –, diversas culturas importantes foram impactadas. Resultado: o Produto Interno Interno Bruto (PIB) da agropecuária caiu 3,2% ante 2023, informam Globo Rural, Band, Metrópoles, Notícias Agrícolas e Rádio Itatiaia. Foi a maior queda no segmento desde 2016, quando o agro recuou 5,2%, mostram dados divulgados na 6ª feira (7/3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A agropecuária operou na contramão da economia brasileira no ano passado, sendo o único setor do PIB do país que sofreu queda. No 4º trimestre, o PIB do setor agropecuário caiu 2,3% na comparação com o trimestre anterior e 1,5% sobre o 4º trimestre de 2023. Já o PIB geral fechou 2024 com alta de 3,4% sobre 2023, embora o avanço no 4º trimestre tenha sido de apenas 0,2%.
A crise climática afetou todos os principais itens da produção brasileira, em especial soja e milho, que representam 90% do volume total de grãos produzidos no país, destaca a Folha. Houve uma queda forte da produtividade devido à falta de chuva e às temperaturas elevadas. A produção de grãos, que foi de 315,4 milhões em 2023, recuou para 293 milhões, segundo o IBGE.
Outras culturas importantes, como laranja, cana-de-açúcar, café e fumo, também ajudaram a puxar o PIB da agropecuária para baixo. Foram poucos os produtos que tiveram alta no volume produzido. Entre eles, arroz e algodão.
Ao afetarem a produção agropecuária brasileira, as mudanças climáticas ajudam a explicar parte da alta nos preços de alimentos no último ano, lembra a Agência Brasil. Afinal, os eventos climáticos extremos reduzem a oferta agrícola, mas não afetam a demanda – um dos componentes do PIB, o Consumo das Famílias, cresceu 4,8% no ano passado sobre 2023, puxado pela melhora no mercado de trabalho, pelo aumento do crédito e pelos programas governamentais de transferência de renda. Com menos produtos no mercado e muita gente para comprar, os preços sobem.
Depois do tombo de 2024, a expectativa é que o agro puxe novamente o PIB brasileiro neste ano. Isso, claro, se for confirmado o volume de grãos esperado para 2025. Boa parte da safra recorde de soja já está nos armazéns, mas a safrinha de milho ainda é uma promessa e vem sofrendo com eventos climáticos. Além disso, a expectativa para a pecuária é de um ritmo menor.