Júri nos EUA condena Greenpeace a pagar US$ 660 milhões por protestos

Juristas criticam a condenação e alertam para perseguição judicial do Big Oil contra organizações; mais da metade dos jurados tinha conexões com a indústria fóssil.
20 de março de 2025
júri nos eua condena greenpeace a pagar us$ 660 milhões por protestos
Divulgação/Greenpeace

Um júri em Mandan, no estado norte-americano de Dakota do Norte, condenou na última 4ª feira (19/3) o grupo ambientalista Greenpeace pela realização de protestos contra um gasoduto da empresa Energy Transfer há quase uma década. A sentença, criticada por juristas e especialistas, prevê o pagamento de mais de US$ 600 milhões como indenização por difamação, um montante que pode forçar o fechamento da entidade nos EUA.

Os protestos em questão aconteceram entre 2016 e 2017, quando o Greenpeace participou, junto com outras organizações ambientalistas e indígenas do Povo Sioux, de protestos contra o oleoduto Dakota Access, de propriedade da Energy Transfer e localizado na reserva de Standing Rock.

A empresa processou não apenas o Greenpeace norte-americano, mas também o escritório internacional da entidade, acusando-os de “incitar” as pessoas a protestar usando uma “campanha de desinformação”. Já o Greenpeace contestou a acusação, argumentando que as manifestações estavam protegidas sob a 1ª Emenda da Constituição norte-americana, que garante o direito à liberdade de expressão.

A entidade também criticou o pedido de US$ 300 milhões de indenização requisitado pela Energy Transfer, classificando a ação como um exemplo de “processo estratégico contra a participação pública”, ou SLAPP (na sigla em Inglês), visando coibir a liberdade de expressão por meio da judicialização.

Os jurados não apenas concordaram com os argumentos da Energy Transfer, como também concederam mais do que o dobro do valor requisitado pela empresa como indenização, condenando o Greenpeace a pagar US$ 660 milhões.

O resultado já era esperado por conta da composição dos jurados que participaram do caso. Mais da metade dos integrantes do júri possui conexões com a indústria de combustíveis fósseis, com posições contrárias aos protestos antifóssil e aos grupos ambientalistas em geral. O Greenpeace tentou transferir sem sucesso o julgamento para outra localidade.

“O que vimos nessas três semanas foi o flagrante desrespeito da Energy Transfer às vozes da tribo Sioux de Standing Rock. E enquanto eles também tentaram distorcer a verdade sobre o papel do Greenpeace nos protestos, nós, em vez disso, reafirmamos nosso compromisso inabalável com a não violência em todas as ações que tomamos”, disse Deepa Padmanabha, consultora jurídica sênior do Greenpeace, citada pelo Guardian.

Como o Guardian destacou, a condenação foi bastante criticada por organizações ambientalistas e juristas nos Estados Unidos. Para Rebecca Brown, CEO do Center for International Environmental Law (CIEL), o processo é “um exemplo clássico de instrumentalização corporativa do sistema legal para silenciar protestos e intimidar comunidades”.

A presidente tribal dos Sioux de Standing Rock, Janet Alkire, criticou a Energy Transfer por tentar calar as vozes que se manifestaram em favor dos indígenas contra o oleoduto. “O caso é uma tentativa de silenciar nossa tribo sobre a verdade do que aconteceu em Standing Rock e a ameaça representada pelo oleoduto à nossa terra, água e povo. Os Sioux de Standing Rock não serão silenciados”, afirmou.

Em nota, o Greenpeace-EUA afirmou que entrará com recurso contra a condenação: “Acreditamos totalmente em nossa defesa legal e que a lei está do nosso lado. Acreditamos no que fizemos em Standing Rock e que, no final das contas, prevaleceremos contra esse processo sem mérito”.

Al-Jazeera, Associated Press, BBC, Bloomberg, CNN, Deutsche Welle, Financial Times, NY Times, POLITICO e Washington Post, entre outros, repercutiram a notícia. A condenação também foi destacada no Brasil por Folha, g1, O Globo e Poder360.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar