Agenda regulatória do MME afrouxa regras ambientais para petróleo

Pasta de Alexandre Silveira quer “passar a boiada fóssil” em manifestações conjuntas com Ministério do Meio Ambiente sobre áreas para exploração de petróleo e gás.
24 de março de 2025
MME transição energética
Ricardo Botelho / MME

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, aumentou sua artilharia contra o IBAMA para que o órgão libere a licença para a Petrobras explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas. Mas o afã de Silveira em afrouxar regras ambientais para a exploração de petróleo e gás fóssil no país não para aí. Basta ver a Portaria 829 do MME, publicada na semana passada, que informa a agenda regulatória da pasta para o período 2025-2027.

Entre diversas propostas, a agenda lista a “revisão de portarias interministeriais que tratam da regulamentação de manifestações conjuntas [MC] e de Avaliação Ambiental de Áreas Sedimentares [AAAS], bem como definição de diretrizes para eventual dispensa para sua aplicação”. São acordos que mexem diretamente com a oferta de blocos para exploração de combustíveis fósseis. Se forem abolidos, vai se “abrir a porteira” para que áreas em regiões ambientalmente sensíveis sejam colocadas à venda em leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O vencimento de manifestações conjuntas firmadas entre os ministérios de Minas e Energia (MME) e Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) fez a ANP correr para promover um leilão de áreas em 17 de junho. Caso não fizesse isso, a partir de 30 de junho todos os blocos da Margem Equatorial – incluindo 47 na foz do Amazonas –, teriam de sair da carteira da oferta permanente de concessão (OPC) da agência. E dificilmente voltariam, diante da altíssima sensibilidade ambiental da região.

Outro acordo, feito em portaria conjunta assinada por MME e MMA em 2012, instituiu a AAAS. Trata-se de um estudo elaborado para avaliar quais áreas de uma bacia sedimentar [ou mesmo toda a bacia] são aptas ou não para a exploração de petróleo e gás fóssil, considerando os impactos ambientais e sociais. Desde então, apenas duas AAAS foram concluídas: na bacia terrestre do Solimões, no Amazonas, e na bacia marítima de Sergipe-Alagoas. No entanto, embora a AAAS não seja exigida para a liberação de uma licença, sua ausência na foz do Amazonas foi um dos dificultadores no processo de licenciamento do bloco 59, para o qual a Petrobras pleiteia a licença para perfurar um poço.

As manifestações conjuntas e a AAAS não garantem 100% de segurança ambiental em áreas ofertadas para exploração de combustíveis fósseis. Tanto assim que o MMA tenta rever junto ao MME uma manifestação assinada em 2020, no governo de Jair Bolsonaro, que autorizou a oferta de blocos próximos a Fernando de Noronha. As áreas foram mantidas no leilão de junho, mesmo após técnicos do MMA reavaliarem os impactos e os riscos ambientais. Mas ao menos criam bases regulatórias e legais para questionamentos.

Contudo, se o Ministério de Minas e Energia conseguir dispensar as MCs e as AAAS, nada vai impedir a “boiada fóssil” passar. A análise ambiental somente ocorrerá após a aquisição de blocos nos leilões da ANP, no pedido de licença ao IBAMA. Se o órgão ambiental já é pressionado por todos os lados por causa de um único bloco na foz do Amazonas, imaginem o que vai ocorrer se outras petroleiras se juntarem à Petrobras e ao MME nessa pressão por licenças.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar