Licença para Petrobras na foz do Amazonas abriria “porteira” na região

Enquanto estatal não consegue licença, outras petroleiras com blocos na costa amazônica se valem de brechas regulatórias para manter concessões.
4 de abril de 2025
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Victor Moriyama/InfoAmazonia

A licença do IBAMA que a Petrobras e parte do governo tanto querem para perfurar um poço de combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, é só uma “cortina de fumaça” para uma ambição muito maior. A autorização, se concedida, será uma “porteira aberta” para a exploração de petróleo e gás fóssil em toda a foz do Amazonas. Abrirá precedente também para a indústria petrolífera em outras bacias sedimentares da costa amazônica, como Pará-Maranhão e Barreirinhas.

É o que mostra a 2ª reportagem da série “Até a última gota”, da InfoAmazonia, que já mostrou que a região amazônica, incluindo os países vizinhos, tornou-se a nova fronteira do petróleo em todo o mundo. No Brasil, a busca por combustíveis fósseis se concentra no mar. E o que acontecer com o bloco 59, no litoral do Amapá, será decisivo para o futuro da exploração de combustíveis fósseis na Amazônia brasileira.

“Se a Petrobras tiver autorização e achar algo lá, vamos segui-la”, disse no ano passado Décio Oddone, CEO da Brava Energia. A petroleira, resultado da fusão da Enauta com a 3R Petroleum, detém a concessão de um bloco na foz, assim como a PetroRio, atual PRIO. Os demais seis blocos concedidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) na bacia são da Petrobras, entre eles o 59.

Além desses, há mais 16 áreas sob concessão na costa amazônica. São cinco na bacia do Pará-Maranhão, nas mãos de Petrobras e Brava, e 11 em Barreirinhas, concedidos pela ANP para essas duas petroleiras e para as gigantes Shell e BP. E a agência ainda poderá oferecer mais 47 blocos na foz no próximo leilão que fará, em 17 de junho. A lista final da licitação será divulgada neste mês.

Essas empresas estão ávidas pela resposta do IBAMA sobre o 59 porque apostam na pressão política da Petrobras. Tecnicamente, vários pedidos de licença já foram negados pela altíssima sensibilidade ambiental da região e a falta de informações sobre os impactos da atividade petrolífera. “Se a Petrobras, uma empresa brasileira que tem o governo como principal acionista, não está conseguindo, ninguém vai conseguir [a autorização]”, afirmou João Correa, presidente da TGS no Brasil, empresa norueguesa que faz levantamentos sísmicos na margem equatorial.

Enquanto isso, as empresas se valem de brechas na regulação para ganhar tempo e manter suas concessões. Pelas regras da ANP, o descumprimento dos prazos contratuais obrigaria a devolução dos blocos ao governo. E 20 dos 25 blocos concedidos – a maioria desde 2013, quando a atual presidente da Petrobras, Magda Chambriard, era diretora-geral da ANP e ofertou essas áreas em leilão – não iniciaram a exploração como estabelecido em contrato.

Contudo, a agência permite a prorrogação de prazos em “casos fortuitos”, ou seja, fora do controle das concessionárias. Com esse argumento, as petroleiras justificaram os atrasos no licenciamento ambiental para manter os contratos ativos. E assim mantêm o risco de a costa amazônica virar uma nova fronteira exploratória de petróleo e gás fóssil no Brasil.

Mas, se parte do governo quer explorar petróleo “até a última gota”, inclusive na Amazônia, a chefe da assessoria especial do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para a COP30, Alice Amorim, “lembrou” que a transição para um mundo sem combustíveis fósseis precisa começar. Ela participou de um evento promovido na 4ª feira (2/4) por petroleiras, quando foi apresentada uma proposta de critérios para definir que países cortariam primeiro sua produção com a implantação do transitioning away proposto na COP28, em Dubai.

A inclusão da expressão na declaração de Dubai foi um avanço em relação a conferências do clima anteriores, que não citaram o tema em seus documentos finais. Mas, desde então, não houve evolução em relação a como esse movimento será feito, explica Nicola Pamplona na Folha. Por isso há uma expectativa que o debate seja retomado em Belém, na COP30.

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