
A intensificação das mudanças climáticas causadas pela concentração crescente de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera terrestre pode ter efeitos devastadores para a diversidade biológica no Brasil. Um estudo publicado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) nesta semana mostrou que até 90% das espécies brasileiras podem ser impactadas negativamente, com cerca de 1/4 delas enfrentando o risco potencial de extinção caso o aquecimento do planeta não seja limitado.
Para chegar a essas conclusões, os autores sintetizaram mais de 20,5 mil projeções já publicadas sobre os impactos das mudanças climáticas em mais de 7,5 mil espécies diferentes de animais e plantas de ambientes terrestres e de água doce no Brasil. A pesquisa também projetou os impactos considerando diferentes cenários de aquecimento e nos diferentes biomas do país.
Um aquecimento global de até 2oC em relação aos níveis pré-industriais, limite máximo definido pelo Acordo de Paris, ainda acarretaria impactos negativos sobre a biodiversidade brasileira, mas em uma proporção bem menor do que no pior cenário. Neste caso, o número de espécies impactadas seria reduzido pela metade.
Independentemente do cenário, o Pantanal figura como o bioma sob maior risco de perdas de diversidade biológica. Na tendência atual, cerca de 75% das espécies de fauna e flora pantaneiras estariam sob risco de extinção até 2100; esse índice cai para 53% no caso do cumprimento do limite de 2oC do Acordo de Paris.
O exemplo da Caatinga reforça a importância da contenção do aquecimento global. No pior cenário, o bioma figura na 2ª colocação do ranking, com 36% de suas espécies de animais e plantas sob risco de desaparecimento. Esse número cai para 11% no cenário de aquecimento de 2oC.
“Embora esse seja um desafio global, o Brasil tem um papel crucial a desempenhar. Não basta apenas conter o desmatamento. É fundamental enfrentar a principal causa das mudanças climáticas que é a queima de combustíveis fósseis. Abrir novos poços de petróleo na foz do rio Amazonas é um contrassenso”, afirmou Mariana Vale, coautora do estudo, ao site ((o)) eco.
O estudo foi publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation. O Globo e Vocativo também repercutiram as conclusões da pesquisa.