Mudanças climáticas triplicaram duração de ondas de calor oceânicas

Estudo indica que 47% das alterações estão diretamente ligadas à ação humana, mais especificamente à queima de combustíveis fósseis.
15 de abril de 2025
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19eli14/Pixabay

Não é apenas a vida sobre a Terra que sofre com os efeitos do aquecimento global. Também os oceanos estão sendo devastados com as mudanças de temperatura do planeta, causadas diretamente pela ação humana, mais especificamente a queima de combustíveis fósseis.

De acordo com estudo realizado por pesquisadores do Centro Nacional de Ciência Atmosférica dos EUA e de outras instituições internacionais, o vigor das ondas de calor oceânicas triplicou nas últimas oito décadas. E 47% das que foram registradas entre 2000 e 2020 não teriam ocorrido sem a influência humana.

Os dados alarmantes esclarecem que, antes da década de 1940, os oceanos registravam em média 15 dias de calor extremo por ano. Hoje, são cerca de 50. Além de mais frequentes, esses eventos estão mais intensos e prolongados, com aumento de até 1°C em suas temperaturas máximas. Regiões como o Mediterrâneo e o Pacífico enfrentam ondas de calor simultaneamente mais frequentes e fortes, enquanto áreas tropicais sofrem principalmente com a maior repetição desses fenômenos.

“Aqui no Mediterrâneo, temos algumas ondas de calor oceânicas 5°C mais altas”, disse a líder do estudo Dra. Marta Marcos, do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados em Maiorca, Espanha, ao Guardian. “É horrível quando você vai nadar. Parece sopa”, relatou.

Os estragos, porém, vão muito além do desconforto humano ao dar as suas braçadas. O desequilíbrio dos ecossistemas oceânicos causado pelo aumento do calor afeta diretamente a vida de milhares de espécies, sobretudo diante do desaparecimento de recifes de corais, florestas de algas e pradarias de ervas  marinhas, fontes essenciais de alimento e abrigo água salgada adentro.

De acordo com cientistas, é algo que pode ser imaginado como o incêndio de grandes florestas. Entre 2014 e 2015  o Pacífico foi assolado por uma onda de calor marinha excepcionalmente longa, causando mortandade em massa de espécies. O cenário se repetiu de forma brutal entre 2015 e 2016 no Mar da Tasmânia, enquanto em 2023 o Reino Unido e o Mediterrâneo registraram temperaturas recordes nunca antes vistas.

Como os ecossistemas planetários são dinâmicos e interligados, as ondas de calor oceânicas acabam por influenciar diretamente no regime de chuvas das regiões costeiras, aumentando também a força dos eventos climáticos extremos que afetam populações inteiras.

Exemplo dramático desse cenário, inundações catastróficas na Líbia em 2023 causaram a morte de aproximadamente 11 mil pessoas. Análises de atribuição climática comprovam que o aquecimento de 5,5°C no Mediterrâneo – recorde histórico – aumentou em 50 vezes a probabilidade do evento, devido a elevação  da disponibilidade de vapor d’água atmosférico e, consequentemente, dos volumes pluviométricos.

  • Em tempo: Como destacou a Mongabay, as ondas oceânicas de calor têm afetado até mesmo as formas de vida marinhas mais resistentes. Pela primeira vez, os famosos “supercorais” do Golfo de Aqaba - considerados os mais resistentes do mundo ao calor - sofreram branqueamento em 2024 devido a temperaturas extremas, com 5% sendo afetados em águas israelenses.

    Embora a maioria tenha se recuperado, cientistas alertam que a poluição próxima (como a de um terminal de petróleo a 500m) pode comprometer essa resiliência única. Em 2024, a NOAA confirmou o quarto evento global de branqueamento de corais da história, com temperaturas oceânicas anormalmente altas afetando gravemente recifes em todos os oceanos - Atlântico, Pacífico e Índico.

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