Obras para COP30 trazem expectativa e frustração à população em Belém

Contradições na estruturação do megaevento revelam as disparidades de uma cidade urbanisticamente precarizada.
23 de abril de 2025
cop30 obras belém
Brenda Takeda via oJoieoTrigo

À medida que Belém (PA) se transforma para ser o epicentro das discussões climáticas na COP30, as contradições típicas de megaeventos em cidades historicamente vulnerabilizadas também ficam evidentes. Os recursos alocados para o evento se aproximam do orçamento médio anual de Belém entre 2015 e 2024 (R$4,8 bilhões), valor bem abaixo de cidades de porte similar, como Goiânia(R$ 6,7 bi) e Recife (R$ 8 bi).

A baixa arrecadação própria da capital paraense é atribuída à economia informal, concentrada em comércio e serviços, à infraestrutura precária — que desestimula a industrialização — e à forte dependência de transferências estaduais e federais, apurou Brenda Taketa, para O Joio e o Trigo.

“A COP e os bilhões que o governo federal traz com ela são uma coisa realmente excepcional. Havia aqui uma porção de projetos na gaveta há muito tempo. Algumas coisas legais, outras nem tão legais. E a gente tinha escapado até aqui da agenda do megaevento. Então ele bateu na nossa porta, para o bem e para o mal”, apontou a pesquisadora Ana Cláudia Duarte Cardoso, professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA).

As obras preparatórias têm gerado importantes impactos ambientais e sociais, com desmatamento de áreas verdes, como a Área de Proteção Ambiental (APA) Metropolitana e o Parque Ambiental Gunnar Vingren, para a construção de avenidas como a Liberdade e a Rua da Marinha.

Comunidades Tradicionais e trabalhadores denunciam violações de direitos como na Vila da Barca, que não tem acesso a água potável e esgoto, mas será impactada por uma estação elevatória que tratará o esgoto do bairro rico do Umarizal, além de receber o despejo tóxico residual das obras da Nova Doca. Operários sofrem com condições insalubres, doenças de pele e jornadas exaustivas, sem proteção adequada.

A especulação imobiliária avança, com alterações no plano diretor para beneficiar empreendimentos privados, enquanto projetos de “revitalização” priorizam áreas nobres, negligenciando saneamento básico e moradia digna para as populações vulnerabilizadas.

O Parque Urbano São Joaquim, financiado por Itaipu e administrado pela prefeitura de Belém, concentra-se em uma pequena intervenção paisagística no trajeto do aeroporto — batizada pela gestão municipal de “cartão de visitas”. Anunciado como um legado da COP30, contou apenas com obras de drenagem pontuais e sem qualquer investimento em saneamento básico para as comunidades vizinhas. Como a Folha noticiou, apenas a menor das quatro etapas previstas (720 metros) está em execução, deixando dúvidas sobre o real impacto socioambiental do projeto.

O próprio governador Helder Barbalho citou à Folha as obras de drenagem e saneamento básico como exemplo de legado efetivo da COP para a cidade e sua população. O irmão dele, o ministro Jader Filho (Cidades), reforçou o discurso, destacando que as quase 30 obras em andamento na cidade não são um esforço de “maquiagem”, como destacou o Metrópoles.

Atualmente, apenas 53% da área metropolitana de Belém conta com água potável e a área de cobertura de esgoto é de somente 9%. E é nesta cidade que será necessário realizar um processo de intensa adaptação hoteleira.

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