Com eventos extremos, seguros climáticos despontam no radar de empresas

Brasil ainda tem lacuna significativa no serviço, com mais de 90% das perdas provocadas pelas mudanças climáticas em 2024 não asseguradas.
28 de abril de 2025
  • Juliana Aguilera, jornalista no ClimaInfo
Secom/RS

Imagine que você tenha um negócio próspero ou uma casa própria e, da noite para o dia, uma enxurrada destrói tudo. Você perde sua fonte de renda ou seu lar, mas lembra-se que tem um seguro específico para situações assim e consegue se realocar para um outra área mais segura. Essa é a realidade de pessoas que moram em regiões de risco a eventos climáticos extremos e que contratam seguros climáticos.

Uma realidade, infelizmente, longe da brasileira, aponta Tobias Grimm, climatologista chefe da seguradora global Munich RE. O saldo dos impactos das mudanças climáticas em 2024 foi amargo na economia brasileira, tendo destaque na análise anual da empresa: “no Sul do Brasil, chuvas intensas no final de abril e no início de maio causaram graves inundações. Quase todo o estado do Rio Grande do Sul foi afetado”.

O documento frisa que os danos são estimados em cerca de US$ 7 bilhões, dos quais US$ 2 bilhões estavam segurados. Ao todo, no primeiro semestre de 2024, a seguradora Munich RE estimou em US$ 120 bilhões as perdas causadas por desastres naturais ao redor do mundo. Do total, US$ 56,6 bilhões (68%) foram decorrentes de eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e incêndios florestais.

Para o especialista, o tópico mais relevante para o Brasil é o excesso ou a falta de água – resultando em inundações, áreas de seca e períodos de seca. “Tenho visto tantas enchentes. Isso é algo que está acontecendo cada vez mais, com pouca água e depois com água demais, e é aí que as mudanças climáticas desempenham um papel”, afirma.

Segundo Grimm, com o aumento de 1,5ºC na temperatura da atmosfera, cada grau se traduz em um aumento de 7% na umidade do ar, que pode ser retida pela atmosfera, e essa umidade adicional do ar é liberada em uma atmosfera mais quente, o que causa taxas adicionais de precipitação, aumentando também o risco de enchentes e inundações.

Além do tópico de inundações, há também tempestades severas ou tempestades com raios, resultando em perdas de granizo, rajadas de vento de pequena escala e tornados. Isso marca um problema crescente do ponto de vista do seguro de propriedade.

Do ponto de vista de mitigação, a resposta é clara, afirma o especialista: é necessário parar de aumentar as emissões de gases de efeito estufa e transicionar para uma economia de baixo carbono. Já do lado da adaptação, a Munich RE vê o seguro climático como um recurso para países afetados pelos eventos climáticos extremos, tendo implementado esse tipo de solução em partes da África e ilhas do Pacífico.

Como funciona

Normalmente, o primeiro tipo de seguro feito por uma pessoa é o plano de saúde. Em países cuja renda per capita é menor, a discussão sobre seguro contra eventos climáticos extremos ainda está distante. “O seguro também é uma forma de nos adaptarmos aos impactos financeiros das mudanças climáticas, mas, ainda hoje, é uma opção não muito difundida em uma região como o Brasil”, explica.

Grimm aponta que existe uma lacuna significativa na proteção de seguros no Brasil, com mais de 90% de todas as perdas não seguradas. Isso significa que poucas pessoas têm uma apólice de seguro em vigor que possa ajudá-las a se recuperar rapidamente após o evento.

Mas o seguro climático não se trata apenas disso. “Temos uma solução de software compartilhada com nossos clientes do setor financeiro, bancos, e para muitas empresas – chama-se inteligência de risco de localização; quando nos envolvemos com nossos clientes de seguros, tentamos apoiá-los no caminho para obter uma melhor compreensão dos riscos climáticos e todos esses tipos de decisões que precisam ser tomadas de acordo”, explica.

Com tal análise, o cliente tem uma gama de produtos de serviços de forma a evitar a germinação da desinformação climática. “Essa parte da educação é muito importante para informar o público e conscientizar sobre o risco real, porque ainda hoje existem muitos incentivos equivocados nos mercados e as pessoas ainda desenvolvem em regiões com alta exposição [a eventos climáticos]”, ressalta.

A Munich RE está no mercado desde a década de 70, quando perceberam que havia uma mudança no risco de desastres ambientais e começaram a contratar especialistas científicos para lidar com o assunto profissionalmente. A iniciativa rendeu não só uma comunidade do lado empresarial que olha mais atentamente para os impactos das mudanças climáticas, mas também parceria com bancos mútuos de desenvolvimento, como o Banco Mundial e a IFC (International Finance Corporation).

Ao que tudo indica, os seguros climáticos vieram para ficar e devem tomar cada vez mais o radar das empresas. Basta lembrarmos que leva tempo para transformar o sistema econômico na tão almejada economia de baixo carbono e que 2024 foi o ano com as maiores emissões globais – o que não é um bom sinal.

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