
Foi uma pausa sem precedentes. Todo e qualquer sistema que necessitasse de energia elétrica parou no maior apagão energético de que se tem memória na Península Ibérica na última 2a feira (28/4), afetando aproximadamente 55 milhões de pessoas em Portugal, Espanha e em algumas localidades no sul da França e no Marrocos. A falta de energia durou mais de doze horas e, diante do caos, o mistério: o que poderia causar um apagão tão extremo, capaz de afetar um território tão amplo?
Como informou o Guardian, os relatos iniciais que sugeriram um “raro fenômeno atmosférico”, citando uma declaração atribuída à operadora portuguesa REN, foram desmentidos. Embora condições climáticas extremas, como tempestades e ondas de calor, possam causar problemas especialmente em condutores antigos e mal conservados, nenhuma alteração meteorológica significativa foi detectada na Espanha no período do apagão. As investigações iniciais também descartaram ataques terroristas ou ações intencionais de sabotagem aos sistemas de geração e distribuição.
A Espanha, um dos maiores produtores de energia renovável da Europa, viu efervescer debates sobre a vulnerabilidade do sistema elétrico devido à volatilidade das fontes solar e eólica. A Redeia, responsável pela Red Eléctrica, já havia alertado sobre riscos de desconexões pela alta penetração de renováveis sem a infraestrutura adequada. O RBC estimou prejuízos entre €2,25 e €4,5 bilhões, criticando a complacência do governo com a infraestrutura e a falta de armazenamento em baterias, destacou a Reuters.
No entanto, especialistas esclareceram ao Euronews que as usinas solares e eólicas foram desconectadas automaticamente devido a uma falha na frequência da rede — um procedimento de segurança padrão. A entidade destacou que o problema foi “uma consequência e não uma causa”, afirmando que a alta produção de energia renovável não está ligada às falhas na rede.
Autoridades, incluindo o primeiro-ministro Pedro Sánchez, rejeitaram as acusações contra as renováveis, classificando-as como “mentiras” e destacando a expertise da Espanha e Portugal em gerenciar a intermitência dessas fontes. “Associar este evento à não utilização de nuclear é um erro técnico ou uma distorção proposital”, declarou o líder espanhol. O governo ressaltou que a experiência ibérica no gerenciamento da intermitência das renováveis comprova sua capacidade de garantir estabilidade energética.
O incidente está sendo investigado por uma comissão governamental, que analisará o papel das empresas privadas de energia. Embora alguns defendam melhorias na infraestrutura para integrar mais renováveis, o ocorrido não diminui sua importância na transição energética. Pelo contrário, a rápida resposta do sistema de segurança mostrou que os protocolos funcionam, evitando danos maiores, e que as críticas muitas vezes são baseadas em desinformação. O caso reforça a necessidade de investimentos em redes mais resilientes, sem desacreditar o potencial das energias limpas, destacou o POLITICO.
AFP, Associated Press, BBC, Bloomberg, CNN, Independent, NBC News e NY Times, entre outros, repercutiram o apagão europeu.