
O Vale do Javari, na fronteira com Colômbia e Peru, no extremo oeste do Amazonas, ganhou espaço no imaginário nacional quando o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram assassinados na região, em 2022. A notícia ganhou o mundo, desvelando um contexto de intrincados conflitos envolvendo garimpeiros, pescadores ilegais e facções criminosas na disputa por um território ancestralmente ocupado por Povos Indígenas que, ainda hoje, seguem isolados – aproximadamente sete mil deles, de etnias como Matis, Matsés, Mayoruna, Marubo, Kanamary, Kulina Pano, Korubo e Tshom Dyapa.
Nem toda a repercussão, porém, foi capaz de desmantelar as atividades predatórias no Javari, o que tem levado a ações de combate, sobretudo ao garimpo ilegal. Até a próxima 5a feira (1/5), uma operação conjunta da Polícia Federal, IBAMA, FUNAI e da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, chamada Nidaid Isquim, seguirá no local com o objetivo de, além de destruir equipamentos e investigar envolvidos, realizar atividades de inteligência para chegar aos nomes dos financiadores das atividades ilegais.
Iniciadas em 24 de abril, as ações de combate ao garimpo destruíram pelo menos 16 dragas na região do rio Jandiatuba. Desde 2023, um total de 1.263 dragas foram inutilizadas no Amazonas, segundo informa Joel Araújo, superintendente do IBAMA.
Os graves impactos do garimpo vão muito além da contaminação dos rios por substâncias tóxicas como o mercúrio, capaz de causar danos irreversíveis, principalmente nas crianças indígenas. Nesse contexto cultural, os rios são ao mesmo tempo fonte de água, de alimento e espaços de sociabilidade.
Não bastassem essas consequências, a atividade garimpeira também impulsiona a violência contra os indígenas, abusos sexuais e exploração trabalhista dos ribeirinhos que habitam o local.
Amazonas Atual, g1, O Globo e SBT News, entre outros, repercutiram as ações de combate ao garimpo no Vale do Javari.
Em tempo 1: Onde a vida está regida pelos fluxos de rios que desconhecem a noção de fronteiras entre países - ou a presença de autoridades de controle e vigilância - também navegam grupos criminosos interessados em transportar produtos ilegais, sobretudo drogas como cocaína e maconha, transformando drasticamente a realidade de quem vive às suas margens. Como reportado pelo Sumaúma, o rio Içá vem sendo utilizado pelo crime organizado desde sua nascente, nos vales colombianos, sob o nome de Putumayo, até desaguar no rio Solimões, no Amazonas. A reportagem lembra que em sete de cada dez localidades na fronteira amazônica de Brasil, Peru, Colômbia e Equador é possível encontrar a influência de facções, às vezes de diferentes países e, em alguns casos, colaborando entre si. O rio Içá é especialmente estratégico exatamente por cortar os quatro países em áreas densas de floresta pouco vigiada.
Em tempo 2: As ameaças de facções criminosas vêm se transformando em fonte direta de violência contra Povos Indígenas em distintos territórios, destacou reportagem da Agência Pública sobre ataques por parte do crime organizado contra lideranças da aldeia Xandó, na TI Barra Velha, na Bahia, homologada em 1992. Os criminosos estão invadindo áreas ao redor da aldeia, o que provocou a ocupação de lotes e fazendas sobrepostas ao território por indígenas Pataxós.