
A pressão pela licença para a Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, ganhará ainda mais força. Ao que parece, o presidente Lula, que defende a exploração de combustíveis fósseis na região, vai cobrar uma decisão do IBAMA. Por seu lado, a petroleira quer que o órgão autorize o deslocamento de uma plataforma para a região. E também cobra a vistoria do centro para a fauna que implantou em Oiapoque, no extremo norte do Amapá.
Lula disse a um interlocutor que vai “encerrar a questão” da foz do Amazonas quando voltar da viagem que fará até meados da próxima semana à Rússia e à China, segundo a coluna Radar, da VEJA. O presidente não disse como faria isso. Mas, por sua posição pró-petróleo, é preocupante o que está por vir.
Lula estaria convencido de que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) atua para boicotar a exploração de petróleo e gás fóssil pela Petrobras no litoral do Amapá – mesmo com a ministra Marina Silva dizendo e repetindo inúmeras vezes que a decisão do IBAMA é técnica, não política.
Mas a suposta “gota d’água” para o presidente, segundo o interlocutor, foi a proposta do ICMBio de criar reservas marinhas na costa amapaense. O anúncio gerou uma onda de protestos de políticos locais e uma onda de desinformação nas redes que fez o órgão adiar consultas públicas sobre a criação das unidades.
Já a Petrobras enviou uma carta ao presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, no qual pede para levar a plataforma que destinou à perfuração do poço no bloco 59 para a região, informaram CNN, agência eixos, InfoMoney, Valor e Brasil 247. A petroleira solicitou ao órgão ambiental que responda até 15 de maio – um dia após o retorno de Lula ao Brasil.
No documento, a gerente geral de Licenciamento e Meio Ambiente da petroleira, Daniele Lomba Zaneti Puelker, disse que a Petrobras atendeu ao projeto aprovado pelo IBAMA para limpar o casco do navio-sonda que pretende usar na abertura do poço. A autorização dada pelo órgão para a limpeza fez com que vários políticos – entre eles o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) – comemorassem o fato como se fosse a emissão da licença para a perfuração, o que foi desmentido pelo IBAMA.
Desde 19 de abril o navio-sonda está na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, para realização de desincrustação de coral-sol. O procedimento é típico de operações offshore e está previsto na mobilização de equipamentos do Sudeste para áreas não afetadas pela espécie, como o Norte e o Nordeste.
Além do deslocamento da plataforma para a área do bloco 59, a petroleira pediu ao IBAMA novamente que faça a vistoria na Unidade de Estabilização de Fauna do Oiapoque (UED-OIA). O centro obteve licença de operação da Secretaria do Meio Ambiente do Amapá no início de abril e integra o Plano de Proteção à Fauna (PPAF) proposto pela Petrobras no processo de licenciamento.
Em tempo: A Shell, que também quer explorar petróleo na foz do Amazonas, avalia a possibilidade de comprar a concorrente BP, informaram Bloomberg e Reuters. As ações da BP já perderam quase um terço de seu valor nos últimos 12 meses, à medida que um plano de recuperação da companhia não agradou aos investidores e os preços do petróleo despencaram. Em comum, as duas petroleiras recuaram drasticamente em seus planos de investimento em fontes renováveis de energia, dobrando a aposta na exploração de combustíveis fósseis. Exame, Folha, Poder360 e Valor também repercutiram a notícia.